terça-feira, 22 de novembro de 2022

Quando brincar é preciso.


Ele crescera naquela comunidade. Sua mãe, professora e administradora de uma escola, exigira muito dele e dos dois irmãos.

Adulto, ele lembrava as horas intermináveis de estudo que lhe haviam sido impostas. Lamentava não ter podido gozar de sadios lazeres.

Mesmo as férias eram programadas para lugares em que, depois de uma caminhada, era preciso escrever sobre o que vira, até os mínimos detalhes.

Ou então, eram visitas a museus, a institutos de ciências, que demandavam posteriores descrições e estudos demorados.

Olhava agora para as crianças que adentravam a escola de sua mãe, detendo-se ali, entre dez e doze horas diárias.

Ele as via entrar pela manhã com suas mochilas às costas e sair, em torno das dez horas da noite.

Aquilo lhe parecia cruel. Por mais que o desejo dos pais, que investiam altas somas para que seus filhos frequentassem aquela escola, fosse o de que seus filhos se ilustrassem, Tomás achava cruel.

Aquelas crianças eram escravizadas, pensava. A disciplina era muito rígida.

Havia horário determinado para tudo. Comer, ir ao banheiro, tudo rigidamente controlado.

Criança que não conseguisse dar conta de todas as tarefas no dia, recebia anotação depreciativa em seu caderno.

Então, um dia, ele tomou o lugar do motorista do ônibus que iria conduzir as crianças para a escola e perguntou se elas gostariam de fazer algo diferente: brincar.

Todas aderiram, de imediato. Ele as levou para a floresta próxima e, durante as horas da manhã, brincaram até cansar.

Foram as brincadeiras de pique-esconde, de pega-pega, de estátua, e tudo que Tomás pôde lembrar que traduzisse infância.

As crianças correram, riram, gargalharam. Sentadas, serviram-se do lanche que levavam nas mochilas.

Próximo ao horário do almoço ele desceu a pequena elevação da floresta para a estrada onde deixara o ônibus.

Pais assustados, acreditando ser um rapto de seus filhos, haviam acionado a polícia.

Mas Tomás proclamou que somente desejava defender alguns direitos das crianças:

Primeiro: As crianças precisam brincar imediatamente.

Precisam brincar agora, enquanto crianças. Não mais tarde.

Segundo: As crianças precisam ser saudáveis imediatamente.

Por isso, horas de estudo devem ser dosadas, com pausas para alimentação, saboreando com vagar a fruta, o suco, o pão.

Finalmente, terceiro: Crianças precisam ser felizes imediatamente.

Tomás recebeu reprimendas duras pelo que fizera e pelo que apregoava, ante a alegria dos pequenos.

                                                                            *   *   *

Cenas de um filme? Nossa realidade?

Bom pensarmos como temos preenchido as horas do dia dos nossos filhos.

Será que, em nome de os preparar para o êxito profissional, carreiras brilhantes, não estamos exigindo demais dos nossos pequenos?

São aulas diárias de idiomas, música, canto, dança...

Horas e horas em estudos e tarefas.

Uma criança que não brinca não é uma criança, escreveu Pablo Neruda.

Nem só de escola devem viver nossas crianças.

Lembremos do quanto é saudável correr, jogar bola, tomar sol, brincar na piscina.

Rir, sorrir, gargalhar, brincar.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita.

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