terça-feira, 30 de junho de 2020

Eu precisava...

Eu precisava respirar. A fumaça das chaminés de todo o porte me sufocava. Vinha de todas as partes e das mais variadas formas.

Eu buscava renovar os ares com ventos mais fortes, a fim de que pudessem promover a limpeza da atmosfera. Em vão.

Promovi tempestades, esperando que varressem, de vez, as nuvens negras que subiam, sem cessar. O céu permanecia claro por alguns segundos, apenas. Depois, tudo voltava a ser como antes.

Procurei deter a sanha dos ambiciosos, desencadeando a borrasca, a fim de arrancar árvores e plantas, como a dizer: Estou cansada! Podem diminuir a minha exploração, por um pequeno lapso temporal, ao menos?

Minhas entranhas eram perfuradas todos os dias, em busca dos tesouros que abrigo em minha intimidade. Nada contra, desde que tudo fosse adequado, realizado de modo racional, ordenado, preservando o entorno.

Enquanto pensavam em extrair os minerais preciosos, destruíam-me e nem se importavam com as tragédias que promoviam para si mesmos, para seus irmãos.

Eu não suportava mais o peso das águas dos rios, oceanos e mares, encharcadas de todos os poluentes imagináveis. Alguns jogados, de forma deliberada, outros, por desastres resultantes de puro descaso ou imprudência.

Assistia ao espetáculo contínuo da depredação dos habitantes das águas, das matas, dos ares. Alguns caminhando de forma acelerada para sua extinção.

Eu precisava parar. Não sei bem o que aconteceu, e com certeza o meu objetivo não era agredir ninguém. Mas, eu precisava parar. Era isso ou, em breve tempo, a espécie mais preciosa de todas iria ser aniquilada.

Uma pandemia se alastrou por toda minha extensão, com a celeridade de um raio, prenunciando intensa tormenta, exigiu que tudo parasse.

A Humanidade precisou se proteger. E a melhor proteção foi o confinamento. O isolamento se fez imprescindível.

Em apenas alguns dias, de forma quase miraculosa, voltei a poder respirar. A fumaça diminuiu, quase desapareceu. As chaminés deixaram de ser tão poderosas.

O trânsito ficou reduzido. Os poluentes deixaram de infestar o ar, a água, o solo. Todos precisaram olhar para si mesmos e descobrir que o que tinham de mais valioso precisava ser preservado: a vida.

A sua vida, a vida do seu semelhante. Mais importante do que o metal, a vida. Mais importante do que dobrar os valores monetários, a vida.

De forma alguma, eu pretendia e nem fui a causadora da pandemia que se instalou. Contudo, ela me permitiu refazer-me de algumas chagas.

Estou em convalescença. Minha grande esperança é de que o homem, esse ser especial que anda sobre mim, repense a sua maneira de viver.

Que se lembre que transita, de forma temporária, sobre mim. Que a sua essência é imortal e é nos termos dessa Imortalidade, que ele precisa trabalhar.

Cultuar o progresso, sem agredir-me. Desenvolver a tecnologia, no sentido de aprimorar métodos de salutar convivência entre todos.

Repensar atitudes. Renovar disposições. Viver em plenitude.

Eu, Terra, desejo ardentemente isso.
Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 23 de junho de 2020

A hora exata.

Quando aninhares em teu seio a revolta e o desespero sobrepujar-te a fé e a esperança; quando o anseio de fuga sobrepor-se a teus mais caros sonhos e ideais; quando o mundo afigurar-te um cárcere, não prossigas. Detém o passo!

De que vale seguir adiante, se teus pés pisam, raivosamente, o solo por onde transitas, despedaçando as flores que ornamentam os caminhos?

É tempo de meditar, analisar, pesquisar causas, fatos, soluções.

Estende o olhar ao teu redor. Vê: a multidão nem mais anda. Corre, acotovela-se, esbarra.

Todos apressados, com o véu das preocupações a lhes anuviar o semblante. São rostos que desfilam sofridos, acabrunhados, envilecidos, frios, assinalando-lhes o sepultamento da sensibilidade.

Não te deixes arrastar pelo convencionalismo material. És um Espírito.

Neste momento, te sentes cansado, desanimado ante as lutas que se apresentam, ante os óbices a vencer. Estás esvaído, exausto e envolves teu corpo em ar de abandono...

No mundo em que te situas, campeia em todo lugar a malícia, o vício, a desonestidade. Corações a quem te entregaste, dilaceraram-te as aspirações com estiletes de reprovações e queixas.

Causas pelas quais te empenhaste, ardorosamente, jazem por terra, por deficiência de quem te auxilie, sustentando-as. Sentes que o fardo é por demais pesado e almejas a fuga desabalada.

Entretanto, se te ligasses com o amor infinito, nada disso te afetaria. Se te colocasses em plano superior ao terreno, enxergarias um pouco além do comum e te deixarias arrebatar pela assistência do plano maior.

Deus é o Amor sem limites, a Bondade, o Poder Supremos.

Permite ao teu Espírito dessedentar-se nessa fonte cristalina que jorra abundante e continuamente do Alto. Deixa-o haurir vigor na Força Divina.

Após, verás como as lutas se tornarão insignificantes, as dores diminutas e o próprio fardo, menor.

Há tantas paisagens encantadoras com que podes deliciar-te, amenizando o combate ferrenho, por momentos...

Torna-te como essas avezitas que voejam, alegres, conquistando o espaço azul. Frágeis, pequeninas, marcadas com vida muito curta, passam-na em gorjeios e labuta.

Singra tu também os ares! Teu pensamento pode alçar-te muito acima da maior altitude alcançada por qualquer pássaro.

És filho de Deus e, portanto, herdeiro de Sua assistência.

Abre-te para o Seu Amor e respirarás a brisa reconfortadora de quem se sabe amparado e vibra feliz.

                                                                  *   *   *

Faze da tua vida uma senda florida em busca da bondade das almas e da beleza do Universo.

Além das nuvens brilha, eternamente, o sol que após as trevas das noites, resplandece sempre em alvoradas de luz.

Também nos corações em que palpitam esperanças, sempre um sorriso álacre estanca lágrimas de quem padece.

Faze da tua vida um sol, um sorriso, uma esperança. Por onde passes deixa algo de bom, algo de belo.

No futuro, serás lembrado como uma esteira de luz, uma terna recordação, uma carinhosa lembrança, um motivo de saudade, uma dedicação de amor.
Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Voltar para casa.

O novo coronavírus nos impôs alterações em nossa forma de viver. Todos fomos convidados a uma volta para casa.

Para os que acreditamos que a morte seja uma vírgula e não um ponto final, voltar para casa pode ser retornar à pátria espiritual, de onde um dia saímos e para a qual retornaremos.

Esperamos que mais experientes, virtuosos e sábios.

Podemos pensar, também, num olhar mais atento para a nossa morada comum, a casa planetária, tão maltratada e explorada por causa da ganância e egoísmo que ainda nos caracteriza.

Por conta dessas imperfeições destruímos abusivamente, pensamos exclusivamente em nós, burlamos leis, ferimos ecossistemas.

Tudo por conta da nossa sanha de poder e domínio.

Nossa Terra, com sua biodiversidade, culturas diversas e histórias maravilhosas de cada povo, pedia socorro e nos convidou a repensar a relação que temos estabelecido com ela.

Cabe refletirmos na quantidade de lixo que produzimos, no consumo desenfreado, na poluição que geramos, no acúmulo desproporcional de riqueza em detrimento do empobrecimento contínuo de tanta gente.

Uma terceira interpretação é a de valorizarmos mais a nossa habitação, o espaço que nos abriga, todos os dias, com nossa família consanguínea.

Além dos cuidados materiais que esse lugar solicita em termos de limpeza e conservação, é nele que damos e recebemos afeto.

É esse recanto formidável que podemos transformar em lar, criando genuínos laços de amor.

Um quarto viés é pensarmos no corpo físico, morada da alma, da essência espiritual que somos. Zelarmos por ele com uma alimentação saudável, boa ingestão de água, atividades físicas, ocupação útil, descanso necessário.

Também deixando de bombardeá-lo com o tóxico dos maus pensamentos, valorizando o investimento evolutivo e espiritual que a vida nos oferece.

Estarmos num corpo físico é estarmos matriculados numa escola onde temos muito para aprender.

Naturalmente, nenhum aluno consciente deixa de valorizar e preservar uma escola tão sublime como esta.

Por fim, voltar para casa também nos faz pensar na casa mental e emocional. Há muito lixo mental e emocional que guardamos sem reciclar e descartar adequadamente. Por isso adoecemos.

Essa parada forçada em casa é um convite divino para repensarmos o que temos feito da vida, das nossas múltiplas relações, do tempo, da inteligência, do dinheiro, do planeta, da saúde.

Também como temos utilizado os princípios religiosos que abraçamos.

É a possibilidade de um mergulho mais profundo em nós mesmos a fim de mudarmos, corrigirmos o rumo, acertarmos o prumo, voltarmo-nos para o que é essencial.

E essencial é o respeito ao outro, o compartilhar, descobrindo que não somos donos de nada e que toda forma de apego gera sofrimento.

Enfim, que precisamos de mais empatia e compaixão.

Temos em nossas mãos a possibilidade real, de agora em diante, de fazermos do amor a nós mesmos e ao próximo, a regra áurea da vida.

Uma regra com roteiro ensinado e exemplificado por um homem terno e gentil, sábio e amigo, há mais de dois mil anos: Jesus de Nazaré.
Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Renovemos nosso olhar.

A cada dia, a vida se renova. Distraídos, ignoramos o que nos é ofertado a cada amanhecer, em vinte quatro horas que se repetem e se repetem.

O sol nasce e se põe sem que vejamos nisso alguma magia ou beleza.

Botões se entreabrem nos jardins, nas ruas e nas praças, sem nenhum aplauso da nossa parte.

Flores deixam cair as suas pétalas, colorindo o chão e nós simplesmente pisamos sobre elas, sem nos permitir sentir o perfume ou observar as cores.

Frutos chegam à nossa mesa sem nos darmos conta do cheiro, sabor, cor e texturas que possuem. Quase sempre os mastigamos e engolimos, enquanto nossa mente anda distante.

O ar que inalamos, em todos os lugares, todos os dias, entra e sai de nossos pulmões sem qualquer movimento de gratidão ou louvor ao Criador.

A água que chega em nossas torneiras abastecendo o lar e saciando a nossa sede, é sorvida com automatismo.

Não nos encantamos com a preciosidade desse líquido ou pela forma como nos chega das fontes, dos rios, dos reservatórios.

No céu, cores se revezam desde a aurora até o final da tarde.

Pássaros cantam nos diversos caminhos por onde transitamos!

Os mares beijam as praias, o planeta abraça os oceanos e esses abraçam com carinho os continentes!

Lagos espelham o céu azul!

Cachoeiras cantam melodias inigualáveis, sonoras e belas!

Pequenos córregos e riachos declamam versos em delicadas poesias.

Fontes cristalinas solfejam acordes!

Chuvas amenas ou torrenciais surgem para promover a renovação do solo, das plantas, além de operarem modificações positivas nas energias que se concentram em certos lugares e regiões.

Ventos e tempestades tentam estabelecer algum diálogo conosco e não vemos nem ouvimos nada...

Animais nos fazem companhia. Dotados de sensibilidade e também de uma centelha espiritual, ajudam a dar sentido aos nossos dias.

Quase sempre, não correspondemos ao que nos oferecem.

Seguimos surdos e cegos para essa linguagem divina, inarticulada e estranha para nós.

Há uma necessidade de renovação em toda a Humanidade!

                                                                        *   *   *

A mensagem trazida pela pandemia é clara, mas requer sensibilidade, olhos de ver, ouvidos de ouvir, coração para sentir, além de mãos para agir.

Temos sido cristãos sem Cristo e esse paradoxo precisa ser resolvido para que tenhamos uma nova família, uma nova sociedade, um novo governo, uma nova Humanidade.

Nada disso será possível sem a gestação e o parto de um novo ser humano: fraterno, solidário, amoroso e gentil com todos os seres da Criação: vegetais, animais e homens.

Um ser que saiba respeitar, conviver e aprender com as diferenças, sem aceitar injustiças.

Que a parada destes dias nos remeta a reflexões mais profundas que aquelas costumeiras.

Deixemos de agir apenas como consumidores, atendendo a necessidades importantes e necessárias, mas que não são suficientes para a construção de um mundo com mais compartilhamento e menos acumulação.

Precisamos de mais cooperação e menos competição. Um mundo com mais nós e menos eu.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Cadeias da alma.

Você se considera uma pessoa livre? Mas, afinal de contas, o que é ter liberdade? Se pensamos que somos livres só pelo fato de não estar atrás das grades, podemos até nos dizer livres.

Mas, será que realmente somos? Se você diz ter liberdade plena, mas se irrita quando os outros querem; se veste conforme os modistas determinam; sente ódio quando as circunstâncias pedem; usa a marca que a sociedade estabelece como sendo a melhor, e se submete a outras tantas cadeias psicológicas, você pode até dizer-se livre, mas é um encarcerado da alma.

O homem verdadeiramente livre é senhor de si, dos seus atos, da sua vontade. Quem é livre não se submete aos vícios, nem às convenções sociais descabidas, nem cai em armadilhas preparadas para os descuidados. A verdadeira liberdade é a liberdade da alma.

Gandhi, o homem que soube lutar pela paz, apesar de ficar detido atrás das grades muitas vezes, era um homem livre, pois ninguém conseguia aprisionar-lhe a alma.

Paulo, o Apóstolo, mesmo jogado numa cela fétida e úmida, manteve-se sereno e senhor da sua liberdade moral. Os homens podiam impedir que ele andasse livremente, mas jamais conseguiram deter sua liberdade de pensar e sentir. Quando um homem é livre, não se importa com o que pensam dele nem com o que falam a seu respeito,  mas sim do que fala sua própria consciência.

Os pais e mães modernos nem sempre estão dispostos a educar os filhos para que sejam livres pois estabelecem, desde a infância, uma série de situações que tendem a fazer com que pensem pela cabeça dos outros. Não os deixam ter as experiências de que necessitam para ser livres e por isso os fazem seus dependentes. Dependem da mãe para escolher a roupa e o calçado que irão usar, para arrumar sua cama, para pôr ordem em seus brinquedos e, às vezes, até para fazer as lições da escola.

Sim, há pais que fazem pelos filhos as tarefas que os professores lhes solicitam. Pensando em ajudar, negam ao filho a oportunidade de se fazer verdadeiramente livre. Outros pais fazem dos filhos cópias perfeitas dos seus ídolos da TV. Compram roupas, bolsas, calçados e outros adereços dos personagens que a mídia produz, como se fossem modelos saudáveis a serem seguidos. Não se dão conta, esses pais, que estão criando um condicionamento negativo, impedindo que as crianças desenvolvam o senso crítico.

Importante que pensemos com seriedade a esse respeito, buscando a nossa liberdade moral e ajudando os filhos a conquistar sua própria libertação. Libertação física pela limitação dos apetites, não se deixando governar pelos instintos. Libertação intelectual pela conquista da verdade, mantendo a mente sempre aberta. E libertação moral pela procura da virtude.

Somente quando soubermos governar a nós mesmos com sabedoria é que poderemos nos dizer verdadeiramente livres. O limite da liberdade encontra-se inscrito na consciência de cada pessoa, que gera para si mesma o cárcere de sombra e dor, ou as asas de luz para a perene harmonia.

 Redação do Momento Espírita.

Doe Sangue

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