terça-feira, 25 de abril de 2023

Bilhetes de amor.


Uma onda de bilhetes aleatórios, com mensagens inspiradoras, tem sido mostrada, com muito sucesso, pela Internet.

Trata-se de uma espécie de boa ação anônima. Alguém escreve breves frases de incentivo, numa pequena folha de papel e a entrega, dobrada, para uma determinada pessoa num local público.

O entregador simplesmente desaparece na multidão, logo em seguida.

A reação de quem recebe é muito interessante. Primeiro, a natural curiosidade. Alguém que não conheço passou por mim, não se identificou e simplesmente me deixou um bilhete. Tudo muito estranho.

Todos acabam abrindo e aí começa o momento mais precioso da experiência. Não há quem não fique tocado.

Frases como:

Voe, voe alto menina. Você é do tamanho dos seus sonhos.

Uma outra:

Não tenha medo, pois Deus nunca o abandonará.

Ou ainda:

Deus mandou lhe dizer: Estou orgulhoso dessa sua força. Estou feliz em ver que, por mais que esteja difícil, você não desistiu.

São alguns exemplos do que as pessoas leem, sentadas na mesa de uma lanchonete ou esperando o ônibus, ou ainda, trabalhando como segurança num evento esportivo.

Percebe-se, claramente, como todos andam necessitados de um pouco de carinho, de um pequeno gesto de atenção.

Quase todos vão às lágrimas. Sentem-se notados, queridos, importantes.

Alguns chegam a olhar para o Alto, numa espécie de reverência e gratidão ao Ser Maior que os viu, tão pequenos.
                                                                *   *   *
É isso que ocorre toda vez que nos colocamos a serviço do bem. Tornamo-nos mensageiros, instrumentos da amorosidade do Criador.

Quantas almas despedaçadas pelo nosso caminho...

Quantas dores inimagináveis que passam despercebidas.

Quantos lares desfeitos... Quantas violências sofridas dia após dia.

Nem sempre os semblantes demonstram tudo que vai na alma. Aprendemos a disfarçar, a fazer de conta que está tudo bem, a nos manter firmes para sermos aceitos em sociedade.

Uma boa maquiagem, cabelo arrumado e uma vestimenta da moda, e lá estamos nós, com a vitrine caprichada.

Um olhar mais atento, no entanto, logo desvenda o que vai no coração.

Pequenas palavras trocadas, um abraço, um breve sorriso, segundos de atenção respeitosa já podem fazer melhor o dia de alguém.

Observemos com atenção o mundo à nossa volta. Observemos as pessoas. Olhemos nos olhos e, sempre que pudermos, nos façamos instrumento do bem na vida do outro.

Isso não toma quase nada do nosso precioso tempo. E o torna mais valioso ainda.

Um elogio... Uma expressão de empatia... Uma forma qualquer de dizer: Eu vejo você, eu me importo com você.

Não imaginamos quanto bem podemos fazer num gesto breve e descomprometido.

Pensemos que aquele sorriso sincero pode ter sido o único que aquela pessoa receberá no dia.

Que pode fazer alguns dias ou semanas que ela não recebe um simples elogio.

E que o amor de nosso Criador pode estar pedindo a nossa ajuda naquele momento, pois somos a pessoa certa no momento certo na vida do nosso próximo.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 18 de abril de 2023

Eles, os outros.


No ano de 1945, o escritor francês Jean-Paul Sartre apresentou ao mundo uma peça de teatro intitulada: Entre quatro paredes.

Nela, duas mulheres e um homem se encontram no inferno, condenados a permanecer para sempre juntos, ali, entre quatro paredes, numa convivência sem fim.

Tornou-se célebre a frase dita por uma das personagens: O inferno são os outros!

Ao trazer a curiosa expressão, a peça nos oferece a reflexão de que o outro, em verdade, é fundamental para o conhecimento de nós mesmos.

Parafraseando o autor, se o inferno são os outros, o caminho de um futuro céu, de um futuro mundo melhor, também será alcançado através da presença e participação do outro.

Sim, são os outros, nossos irmãos de caminho, que se transformam diariamente em nosso caminho para o alto.

Vejamos, em primeiro lugar, entendendo a questão proposta por Sartre, que é na convivência contínua que nos descobrimos.

Por que trazemos a impressão de que conviver não é fácil?

Naturalmente porque nós não somos fáceis. Lembremos: nós somos o outro do nosso próximo.

O convívio necessário, proposto pelas leis divinas, faz com que compreendamos uns aos outros e, ao mesmo tempo, nós mesmos.

Haverá momentos em que o outro será espelho. Uma imagem daquilo que não temos coragem ou condições de enxergar em nós.

Haverá outras instâncias em que o outro será instrumento de desenvolvimento de nossas virtudes.

Por exemplo: como cultivar paciência e tolerância sem ter quem tolerar? Como conquistar a importante virtude da indulgência sem ter que aprender a olhar o outro com mais amorosidade?

O desenvolvimento da maioria das nossas virtudes passa, necessariamente, pelo convívio, passa pela presença do próximo em nossas vidas.

Agora, pensemos num aspecto que, por vezes, escapa ainda de nossa visão tão negativa das coisas: é através dos outros que, em muitas situações, a bondade do Criador consegue nos encontrar.

Nesse caso, o outro se torna instrumento da Bondade Divina que nos alcança.

Quantas vezes fomos salvos por um amigo, por um familiar, ou mesmo por um completo desconhecido, que possuía em mãos a resposta para o que precisávamos?

Quantas vezes, quando caídos, fomos erguidos pela bondade de alguém?

Quantas vezes fomos detidos, à beira do abismo da desesperança, pelo outro, que chegou no momento preciso?

Dessa forma, eles, os outros, são nossa estrada para a felicidade.

A Lei Divina, na Voz do Grande Mestre, é muito clara ao nos propor: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Dentro do plano de evolução de cada um de nós existem três grandes personagens: nós, Deus e o próximo.

Por isso, os que nos dedicamos ao próximo somos, naturalmente, mais felizes, nos sentimos mais completos.

Em contrapartida, aqueles que apenas esperamos do outro, esperamos ser servidos e atendidos em nossas necessidades, ainda nos encontramos perdidos nas malhas da carência e da decepção.

Reflitamos por fim: como anda nossa relação com os outros?

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 11 de abril de 2023

Oração da manhã.


Quando mais uma manhã desponta e os raios de vida abundante vêm nos dizer para seguir adiante, enuncio minha oração.

Agradeço pela noite que agora é passado. Noite de refazimento e de descanso da máquina corporal.

Pelas incontáveis reações, alterações e revoluções que se deram no corpo sem que eu percebesse, propiciando a maravilha de mais um despertar.

Agradeço pela renovação do dia de serviço, pela renovação da oportunidade de transitar por este planeta, escola de almas.

Agradeço pelo canto ligeiro dos pássaros, saudando com alegria a alvorada que se repete.

Os pequeninos seres alados nos lembram seguidamente que devemos receber com júbilo cada alvorecer, fazendo dos primeiros instantes do dia um poema à alegria de existir.

Sou grato pelos que estão ao meu lado nesta lida, por saber que todos recebem seguro acompanhamento, que todos são agraciados por proteção ininterrupta.

Pelos amores que aqui estão, tão próximos. Também pelos amados, que já transitaram pela existência física e que agora nos acompanham do mundo dos Espíritos.

Por saber que, muito mais que lembrança do coração, são presenças reais, vivas, pois a alma segue seu curso no espaço.

Agradeço o alimento de cada dia.

Por perceber que a natureza nos atende com fartura. Também por enxergar as mãos dos irmãos que trabalham sem cessar, para que a alimentação nos chegue à mesa nas condições de que necessitamos.

E, por entender e sentir que cada alvorada é um evento grandioso, que desfila humilde em frente ao meu olhar. Muitas vezes, insensível, faço-me pequeno e encantado diante de tantas benesses.

Faço-me observador e me coloco, Espírito que sou, na postura de plateia exultante, que se emociona com a música sublime e deseja aprender com a sinfonia que ouve.

Faço-me pequeno, por entender que há tanto ainda a descobrir.

Ao mesmo tempo, me faço grande, sentindo-me parte de um espetáculo magistral.

                                                       *   *   *

Pai de infinita bondade e justiça. Ensina-me a ser como Tuas manhãs.

Ensina-me a renovação constante e o júbilo incessante.

Ensina-me a amar com o mesmo amor que perfuma o novo dia quando nasce.

Ajuda-me a não esquecer de Ti e de mim.

Ajuda-me a ser instrumento de paz no planeta bendito em que me encontro.

Penetra meus pensamentos como a brisa matutina que poderia muito bem ser chamada de esperança.

Desperta-me para a realidade da vida imortal.

Invade meus sentidos despojados e lhes concede asas.

Permite que cada voo seja um consolo a quem precisa, um pão a quem tem fome, um sorriso a quem se esqueceu de sorrir.

Pai Celeste, que o novo dia abrace a todos, com o calor e a segurança de Teu braço forte.

Que sejamos todos envolvidos pela certeza de que Teu Universo nos quer bem, nos quer fortes e maduros. De que Teu Universo sublime é também nosso.

Sabemos que temos a Tua assinatura. Aqui, em algum lugar sem lugar, em alguma parte sem parte. Temos Tua assinatura no amor que nos une a todos.

Fica em nossa companhia, bondoso Pai!

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Uma palavra maravilhosa.


Ela fora levada pelo pai e pela madrasta, para Tianjin, há mais de mil quilômetros da residência da família.

Sempre fora a filha rejeitada. Mais do que isso, odiada. Estava acostumada aos maus tratos da madrasta, à total indiferença do pai.

Todos a culpavam pela morte da mãe, alguns dias depois de lhe dar à luz. Os irmãos a maltratavam porque sofriam o desprezo da madrasta. Se a mãe estivesse viva, seu pai não teria tornado a se casar.

E eles, como filhos do primeiro casamento, não seriam tratados como indesejáveis, vivendo em cômodo separado da nova família paterna.

No avião, quase chegando ao destino, outro grande baque para a menina de apenas onze anos. Seu pai se sentou na poltrona vazia ao seu lado e perguntou:

Como é o seu nome chinês? Preciso preencher o cartão de desembarque e não lembro como você se chama.

Ela era tão insignificante que o pai nem recordava seu nome verdadeiro. Realmente, concluiu, não valho coisa alguma. Cada dia, mais me convenço disso.

A pergunta seguinte foi ainda mais devastadora: Qual é a data do seu aniversário?

Como ela poderia saber? Jamais ela tivera uma comemoração pelo aniversário.

Como não soubesse informar, o pai disse que colocaria a sua própria data de nascimento.

Quando chegaram ao destino, ela foi simplesmente deixada no portão de enorme colégio. Seu pai nem descera do táxi.

A diretora a levou ao imenso dormitório. Logo ela descobriria que fora abandonada em local perigoso. Os comunistas haviam derrubado o governo e avançavam.

Os dias passavam tristes. Ela era a única aluna. Todas haviam partido, com suas famílias, para outras localidades, temerosas das ações dos vencedores.

Quando Adeline recebeu a visita da irmã de sua madrasta, gelou, pensando em mais maus tratos.

No entanto, o que ela viveu, durante a travessia de navio a Hong Kong, os dias em que conviveu com a tia, lhe fizeram compreender o que significava família.

O irmão ajudava a irmã, tinha carinho para com ela, ensinava tudo que sabia.

Quando, na apertada cabine do navio, Adeline se preparava para dormir no chão, porque somente havia duas camas, ouviu da tia que nada ali era imposto.

Através de um sorteio, foi definido que a prima é quem dormiria no chão.

Era inacreditável. Ela era tratada como se pertencesse àquele conjunto. Uma família na qual existia o respeito, a afeição.

Compreensão entre o casal, amizade, companheirismo entre os filhos.

E ela? Ela era a terceira filha, recebendo tudo o que os primos recebiam: a mesma comida, cuidados, atenção.

Pela primeira vez em sua vida, recebeu carinho, sentiu-se gente. Não era um lixo que se jogava, literalmente, aos lobos. Ou seja, no meio de um conflito, deixada à própria sorte.

Acostumada a receber bofetadas em pleno rosto, ao ponto de sangrar, a levar uma surra homérica porque diziam ser mentirosa, naqueles dias, ela viveu o verdadeiro sentido de família.

Algo que levaria para sempre, em sua vida. E, ao constituir a sua própria, anos mais tarde, traduziria exatamente assim: aconchego, atenção, afeto.

Em uma palavra maravilhosa: amor.

Redação do Momento Espírita.

Doe Sangue

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