quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Ante o Ano Novo

Ao finalizar o ano 1900, muitos pensadores argumentavam que o raiar do século XX marcaria o fim da fase religiosa da História.

Mas cá estamos, no século XXI e a mensagem do Cristo está bem viva e forte no pensamento e no coração de incontáveis pessoas.

Voltaire, escritor francês do século XVIII, imbuído desse espírito cristão, teve oportunidade de produzir excelentes peças de caráter religioso.

Hoje, neste início de mais um ano, é importante revermos tais escritos que nos remetem a uma profunda fé em Deus.

Exatamente aquele Deus que Jesus nos revelou como o Pai de todos nós. Um Pai que ama e por amor nos sustenta os dias.

Deus de todos os seres, de todos os mundos, de todos os tempos. Se é permitido a frágeis criaturas, não percebidas para o resto do universo, atrever-se a Te pedir algo, a Ti, que tudo nos tens dado; a Ti, cujos decretos são imutáveis e eternos; olha com piedade os erros de nossa natureza. Que esses erros não sejam calamidades.

Afinal não nos deste o coração para nos aborrecer e as mãos para nos agredir.

Faze com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e fugaz.

Que as pequenas diferenças entre os trajes que cobrem nossos frágeis corpos, entre nossas insuficientes linguagens; entre nossos ridículos usos, entre nossas imperfeitas leis, entre nossas insensatas opiniões, entre nossas condições tão desproporcionadas aos nossos olhos e tão iguais diante de Ti;

que todos esses matizes, enfim, que distinguem os átomos chamados homens, não sejam sinais de ódio e de perseguição.

Que aqueles que acendem velas em pleno meio-dia para Te celebrar, tolerem os que se contentam com a luz de Teu sol.

Que os que cobrem seus trajes com tela branca para dizer que devemos amar, não detestem os que fazem o mesmo sob uma capa de lã negra.

Que seja igual adorar-Te em dialeto formado de uma língua antiga e em uma recém-formada.

Que todos os homens se recordem de que são irmãos!

Se os açoites da guerra forem inevitáveis, dá-nos condições de não nos desesperarmos.

Que não nos destrocemos uns aos outros em tempos de paz.

Que empreguemos o instante de nossa existência em bendizer em milhares de idiomas, desde o Sião até a Califórnia, Tua bondade que nos concedeu este instante.

*   *   *

Originados da mesma fonte, amparados pelo mesmo Pai, todos os homens somos irmãos.

Se as fronteiras nos dividem em países e nações, se os idiomas nos criam dificuldades de comunicação, se as distâncias nos impedem de nos entrelaçarmos, a vibração da fraternidade deve vigorar em nossos corações.

Todos fomos criados por amor, somos filhos da Luz e destinados à Luz.

Por ora, e somente por agora, nos situamos em painéis diferentes. Mas um dia, além do corpo, transcorrido todo o caminho, todos chegaremos ao mesmo fim. A casa do Pai. A perfeição.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Porque é Natal

Senhor,

A Tua voz é o som perfeito que me embala o ser, e que me faz ouvir o murmúrio tranquilizante dos astros.

O Teu olhar é como o brilho solar, que me aquece a alma fria, marcada pelo desalento e pela desesperança, nessa dura marcha para a elevação.

As Tuas mãos representam para mim o divino apoio, amparo que me impede de tombar, fragilizado como estou, nos rumos em que me vejo, ante a necessidade de subir.

As Tuas pegadas indicam-me as trilhas por onde devo me orientar nessa ausência de bússola moral com o entorpecimento da ética, quando desejo ir ao encontro de Deus.

As Tuas instruções, Jesus Nazareno, mapeiam para mim o território da paz, ensejando-me clareza para que saiba onde me encontro e como estou, para que não me perca nessa ingente procura dos campos de amor e das fontes de paz.

Os Teus silêncios falam-me bem alto a respeito de tudo o que devo aprender e operar nos recônditos de minh’alma, aprendendo tanto a falar quanto a calar, sempre atuando na construção do mundo rico de fraternidade que almejamos.

Agora, quando me ponho a meditar sobre tudo isso, meu Senhor, desejo exalçar o Teu nome, por toda a minha omissão dos milênios afora, embora a Tua paciente e dúlcida presença junto a mim.

Já é Natal na Terra, Jesus!

E porque é o Teu Natal, busco em Tua luz desfazer as minhas sombras.

Procuro em Tua assistência superar minhas variadas necessidades.

Quero no Teu exemplo de trabalho atender os meus deveres.

Porque é o Teu Natal, anseio por achar na Tua força a coragem de superar os meus limites.

Desejo ver na Tua entrega total a Deus o reforço para minha fidelidade ao bem e, na Tua autodoação à vida, anelo tornar-me um servidor;

No culto do dever que te trouxe ao mundo, quero honrar o meu trabalho.

No Teu natal, que esparge claros jorros de amor sobre o planeta, quero abrigar-te no imo do meu coração convertido numa lapa bem simples, para que possas nascer em mim, crescer em mim e atuar por mim.

E, na magia do Natal, vibro para que minhas ações permitam que o Teu formoso reino logo mais possa alojar-se aqui, no mundo.

E que cheio de júbilo n’alma eu possa dizer que te amo, que te busco e que te quero seguir, apesar da simplicidade dos meus gestos e do pouco que tenho para dar-te, meu doce Amigo, meu Senhor.

*    *    *

O Natal é sempre a especial oportunidade de exercitar o amor.

Em nome de um menino, há cores e brilho nas ruas. Pessoas andam apressadas, entrando e saindo das lojas.

A sua preocupação é adquirir um mimo, um presente para os seus amados, para os amigos, para os colegas.

Também para quem nem conhece e resolveu apadrinhar. Um brinquedo para fazer sorrir uma criança.

Um abraço para quem vive só. Um sorriso para quem vive sem amor.

Tudo porque é Natal.

Natal de Jesus. Festa de corações. Momento de paz, de oração, de amor.

Não deixe passar em branco essa data. Participe com sua cota de alegria, de doação e de carinho.

Porque é Natal.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Prece no alvorecer

Acordei quando a manhã se vestia de luz para receber o dia. O sol, espreguiçando-se por detrás das nuvens, derramava seus raios mornos pela Terra.

Abrindo a janela, senti uma grande alegria e desejei orar ao Criador de todas as coisas, ao Pai de todos nós. Queria dizer tantas coisas!

Mas como se pode, sendo tão pequeno, dizer coisas grandiosas a quem é tão onipotente?

Desejei abraçar o dia e servir, fazer algo útil, bom, especial.

Como se pode agradecer ao Pai generoso por tantas dádivas senão buscando se tornar um servidor para as Suas criaturas?

Entre a timidez e a emoção, com o coração a cantar em descompasso no peito, comecei:

Meu Deus e meu Senhor. Eu gostaria tanto de poder colaborar contigo. Eu gostaria de ser um jardim de flores, de todas as cores, para embelezar a Terra.

Mas, na pobreza que minha alma encerra, se não puder ser um jardim, deixa-me ser uma rosa solitária, em uma fenda da rocha, colocando beleza no painel nobre da natureza.

Eu gostaria de ser um canteiro perfumado, onde as abelhas viessem colher o néctar, para produzir o mel que alimentaria bocas infantis.

Eu gostaria de ser um trigal maduro, para colocar pão na mesa da Humanidade. Mas, é demais para mim.

Como não poderei ser uma seara, ajuda-me a ser o grão, que caindo no chão, se multiplique num milhão. E me transforme em pão para os meus irmãos.

Eu gostaria de ser um pomar de frutos maduros para acabar com a fome. Mas na pobreza que me consome, te venho pedir para ser uma árvore desgalhada, projetando sombra na estrada.

Talvez alguém, em passando de mansinho, por esse caminho possa me dizer “Olá”. E respondendo, eu estenda a mão e me ofereça: ”Sou teu irmão, sou teu amigo.”

Eu gostaria de ser como uma chuva generosa, que caísse na terra porosa e reverdecesse o chão. Mas, como não conseguirei, então, te pedirei para ser um copo de água fria que mate a sede de quem anda na desesperação.

Eu gostaria de ser um riacho que descesse a encosta da montanha cantando, por entre as pedras, ofertando linfa refrescante às árvores que protegem o solo.

Meu Deus! Eu gostaria de ser como a Via-láctea de estrelas para que as noites da Terra fossem mais belas e a dor debandasse, na busca de um novo dia.

Mas, na minha pequenez, sem conseguir, te quero pedir para ser um pirilampo na noite escura, iluminando a amargura de quem anda na solidão.

Eu gostaria de ser um poeta, um artista, um trovador. Quem sabe um cantor, um esteta, orador para falar da magia e da beleza da Tua glória.

Mas, como eu quase nada sou, como me falta o verbo, a mestria, então, eu te peço, Senhor, para ser o companheiro da criatura deserdada.

Deixa-me caminhar pela estrada e estender a mão a quem anda solitário e triste. Deixa-me ser-lhe a mão de sustento e lhe dizer:“Sou teu irmão, estou contigo. Vem comigo.”

*   *   *

Agradeçamos a Deus a nossa existência.

E apresentemos esse nosso Pai para a Humanidade, tornando-nos exemplos de amigos e irmãos em todas as circunstâncias.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Lição no apólogo

Na crônica de vários países do mundo existe uma narrativa de excelente conteúdo moral.

Trata-se de um velho apólogo que é uma verdadeira pérola da filosofia, que nos pode enriquecer os corações e nos orientar o procedimento, enquanto nos encontramos neste bendito lar chamado Terra.

Conta o dito apólogo que um homem foi convocado a comparecer perante o tribunal, para dar solução imediata aos problemas e suspeitas que lhe manchavam a vida. A condenação era quase certa.

Temendo o que lhe pudesse acontecer, o homem pensou em quem o poderia auxiliar, com conselhos e proteção, quem o poderia acompanhar, falar por ele, defendê-lo.

Lembrou que possuía três amigos e, de imediato, os procurou.

O primeiro, um tanto arrogante, lhe ouviu a necessidade e depois disse:

Não posso fazer nada por você, a não ser arranjar uma roupa nova para que compareça bem vestido diante do juiz.

E lá se foi o pobre homem, em busca do segundo amigo, esperando o melhor. No entanto, embora se preocupasse com a sua situação, esse lhe falou:

Verdadeiramente, tenho você em alta estima. Contudo, no presente caso, nada mais posso fazer a não ser acompanhá-lo até à porta do tribunal.

Procurado, o terceiro se mostrou muito solícito e, de imediato, se ofereceu:

Irei com você e falarei em sua defesa.

Estendeu-lhe os braços, seguiu com ele, amparou-o em todos os momentos da luta e falou com tanta segurança e com tanta eloquência em benefício dele, diante da justiça, que o mísero suspeito foi absolvido com a aprovação dos próprios acusadores.

*   *   *

Neste apólogo, temos a nossa própria história frente à morte.

Todos nós, diante do sepulcro, somos convocados a comparecer ante o tribunal da consciência. Teremos que prestar contas à contabilidade Divina.

E todos recorremos àqueles que nos protegem.

O primeiro amigo, o doador de trajes novos, simboliza o dinheiro que nos garante o sepultamento.

O segundo, aquele que nos acompanha até a porta do tribunal, é o mundo, representado pelos nossos amigos, parentes ou afeições mais queridas que, com pesar, nos seguem até a beira do túmulo.

O terceiro, contudo, é o bem que praticamos nesta vida. Esse segue conosco e falará das nossas ações, do nosso proceder.

Será o anjo protetor do nosso destino. Falando em nós e por nós, diante da justiça, nos conseguirá mais amplas oportunidades de serviço, ou o nosso passaporte para esferas mais felizes.

E, assim como o bem que praticamos abre as portas da felicidade, igualmente as más ações depõem contra nós, enclausurando-nos aos sofrimentos, retendo-nos junto aos círculos pesados das sombras.

Percebemos, então, a grandeza da justiça Divina a se concretizar no ensino do Mestre de Nazaré, conforme as anotações do Evangelista Mateus:

Cada um receberá conforme suas obras.

Atendamos assim ao bem, onde estivermos, agora, hoje, amanhã e sempre, na certeza de que o bem que realizamos é a única luz do caminho infinito que jamais se apagará.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Quem tem poder



Muito curiosa é a marcha do ser humano em busca do que ele considera uma grande conquista. E, dentro desse contexto, está a sede pela posse do poder.

E o poder tem se constituído numa verdadeira obsessão. Em todos os tempos há os que o buscam, de forma incessante, incansável e perturbadora.

Há os que desejam o poder do dinheiro, mas a morte os afasta das propriedades e dos cofres abarrotados, para que experimentem, no país da verdade, as realidades da vida.

Há os que espreitam o poder da política terrena, ansiosos, mas a morte os exclui das decisões bem urdidas, dos conchavos escusos, onde se julgavam fortes, imbatíveis, para que possam identificar as realidades da vida.

Há aqueles que se impõem, respeitados por uns, temidos por muitos, dominando exércitos submissos ao seu comando arbitrário, caprichoso; mas a morte arranca-lhes a espada e a lança, fazendo silenciar a sua voz de comando, conduzindo-os às realidades da vida.

Em tronos de soberba e crueldade, há os que se envaidecem, os que se vangloriam, tendo os ombros recobertos de púrpura, tendo coroas de gemas e ouro sobre atormentadas frontes. A morte, porém, rouba-lhes o cetro, desaloja-os do trono de ilusão e lhes impõe o conhecimento das realidades da vida.

Há muitos que exercem poder sobre familiares indefesos que, frágeis, suportam ameaças, violências físicas e morais, pondo à mostra seu temperamento ácido. No entanto, chega a morte e lhes desarticula a presunção, desarma-lhes a prepotência, arremessando-os para as realidades da vida.

Nenhum poder tipicamente do mundo resiste às transformações que o tempo a tudo impõe.

Em verdade, somente a vida, a vida do Espírito imortal, carrega em suas engrenagens as lentes ideais para que se veja e entenda o que realmente existe como força no mundo todo.

A morte, então, é transformada em eficiente mensageira da realidade, com o objetivo de destronar os orgulhosos, de desmascarar os enganados e desmoralizar os hipócritas.

Do mesmo modo, essa mensageira abençoa os que trabalham com honestidade e lucidez nos campos terrenos, permitindo-lhes usufruir da ventura semeada.

A morte, agindo sobre o corpo físico, determina o final das experiências enlouquecidas da alma sobre a Terra, fazendo fechar-se o ciclo de abusos, de desmandos, a fim de que o Espírito, esse viajante da evolução, possa cair em si, através de meditações profundas, despertando para as realidades da vida.

Quem detém o verdadeiro poder, no mundo, é todo o indivíduo que se acostumou a construir a paz dentro de si, por meio de árduas disciplinas, conseguindo espalhá-la em derredor.

O verdadeiro poder no mundo pertence àquele que trabalha com honradez, calejando as próprias mãos, simbolicamente, ajudando a iluminar as estradas sombrias do planeta.

Somente aqueles que sabem renunciar aos convites dos vícios do mundo, a fim de conquistar as virtudes sublimes que valorizam o íntimo da criatura, é que são reais detentores do mais grandioso poder: o poder sobre si mesmos.

*   *   *

O poder do mundo é passageiro, é precário, é temporal. O poder do Espírito é imorredouro e propicia a verdadeira felicidade a quem o possui.

O poder real é daquele que, tudo podendo exigir, torna-se, na Terra, o verdadeiro servidor de todos.

Doe Sangue

Doe Sangue