terça-feira, 28 de novembro de 2017

Construindo a felicidade.

O desânimo lhe pesava aos ombros, como nunca antes.

Embora tentasse ser otimista, buscar o melhor de cada situação, para ela, aqueles dias se mostravam desafiadores.

Dentro do lar encontrava a incompreensão a julgar todas as suas ações.

No trabalho, as exigências desmedidas de um chefe intolerante, a pedir mais e mais.

E as dificuldades financeiras habituais, equilibrando-se no orçamento entre lá e cá das dívidas e compromissos assumidos.

Naquele dia, as aflições pareciam tomar um volume mais intenso, a extravasar-lhe do coração.

Foi assim que encontrou velho amigo, que sempre fora seu conselheiro nas horas mais cruciais.

Reconhecendo-lhe na face as dores que a alma passava, convidou-a para uma conversa fraterna.

Parece que este mundo não é para a felicidade. – Desabafou ela, logo de início.

Será que somos condenados às dores, suplícios, dificuldades? Não temos direito de sermos felizes? – Questionou, com a voz embargada pelas lágrimas que insistiam em inundar seus olhos.

O amigo, profundo conhecedor da natureza humana, falou, com tranquilidade:

Não sei do que você está falando. Vejo você mesma, neste instante, construindo sua felicidade!

Você deve estar brincando, só pode... Não vê meu estado, não percebe o que estou passando?

Mesmo assim insisto, você está construindo sua felicidade. Muitas pessoas chamam de felicidade o sorriso fácil das festas sociais, ou o dinheiro gasto para amealhar bens, ou a quantidade de posses em seu nome.

Essa é uma felicidade que logo se esvai... Logo que o dinheiro mude de mãos, a saúde não permita mais as extravagâncias, e as ilusões se encerrem em um golpe de dor.

Existem, sim, aqueles que trafegam por estradas estreitas, em desafiadoras provas. Porém, toda prova bem entendida, corretamente vivenciada, constrói virtudes em nossa intimidade.

E as virtudes que vamos conquistando serão a fonte permanente da felicidade que poderemos usufruir sem medo, quando se implantarem, em definitivo, em nós.

Hoje você passa pela incompreensão no lar. Mas é lá que você está desenvolvendo a paciência.

No trabalho, enfrenta a intolerância do chefe desmedido. Mas é lá que você se faz aprendiz da humildade e da compreensão.

As dificuldades financeiras que lhe surgem lhe dão o ensejo de ser comedida, paciente, resignada perante a vida.

Nos dias mais atribulados, nas dificuldades mais intensas, estamos realizando os esforços necessários para cultivarmos as virtudes e valores nobres de que ainda não dispomos.

Imaginar que ser feliz é ter dinheiro, comprar tudo que se deseja, ou dar vazão a todas as nossas extravagâncias é tolice de nossa imaturidade emocional.

Para concluir a conversa, ponderou o velho amigo:

Lembre-se de que as dores e dificuldades pelas quais está passando, logo mais deixarão de existir.

Entretanto, as virtudes, insculpidas a duros golpes nestes dias difíceis, acompanharão você para sempre.

Um breve silêncio se fez entre ambos. Ela olhou o amigo, abraçou-o e, aconchegando-se a ele, como alguém que sente ter encontrado um porto seguro, agradeceu.

Estava renovada para prosseguir nas lutas, enfrentando as dificuldades.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Amados e amáveis.

Todos desejamos ser amados. Mas será que já compreendemos a necessidade de sermos amáveis?
A História nos conta que todos os que foram hóspedes de Theodore Roosevelt, o presidente americano, ficaram espantados com a extensão e a diversidade dos seus conhecimentos.
Fosse um vaqueiro ou um domador de cavalos, um político ou diplomata, Roosevelt sabia o que lhe dizer.
E como fazia isso? A resposta é simples: Todas as vezes que ele esperava um visitante, passava acordado até tarde, na véspera, lendo sobre o assunto que sabia interessar particularmente àquele hóspede.
Porque Roosevelt sabia, como todos os grandes líderes, que a estrada real para o coração de um homem é lhe falar sobre as coisas que ele mais estima.
O ensaísta e outrora professor de literatura em Yale, William Phelps, aprendeu cedo esta lição.
Narra a seguinte experiência:
Quando tinha oito anos de idade, estava passando um final de semana com minha tia.
Certa noite chegou um homem de meia idade que, depois de uma polida troca de gentilezas, concentrou sua atenção em mim.
Naquele tempo, andava eu muito entusiasmado com barcos, e o visitante discutiu o assunto, de tal modo, que me deu a impressão de estar particularmente interessado no mesmo.
Depois que ele saiu, falei vibrante: “Que homem!”
Minha tia me informou que ele era um advogado de Nova York, que não entendia coisa alguma sobre barcos, nem tinha o menor interesse no assunto.
“Mas, então, por que falou todo o tempo sobre barcos?”
“Porque ele é um cavalheiro. Viu que você estava interessado em barcos, e falou sobre coisas que lhe interessavam e lhe causavam prazer. Fez-se agradável!”
*   *   *
Inspirados nessas duas ricas experiências, indagamos: Será que nos esforçamos para nos tornarmos agradáveis aos outros?
Será que encontramos neste mundo cavalheiros com tais características de altruísmo e polidez?
São raros, infelizmente. Por isso, a lição nos mostra mais um caminho para a verdadeira caridade, ou mais uma sutil nuança dessa virtude.
Se desejamos ser amados, obviamente que precisamos nos esforçar para sermos amáveis!
A amabilidade é esta qualidade ou característica de quem é amável, por definição.
É ser polido, cortês, afável. É agir com complacência.
Allan Kardec, ao estudar a afabilidade e a doçura, na obra O  Evangelho segundo o Espiritismo, conclui:
A benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que são a sua manifestação.
*   *   *
Não será porque sorrias a todo instante que conseguirás o milagre da fraternidade. A incompreensão sorri no sarcasmo e a maldade sorri na vingança.
Não será porque espalhes teus ósculos com os outros que edificarás o teu santuário de carinho. Judas, enganado pelas próprias paixões, entregou o Mestre com um beijo.
Por outro lado, não é porque apregoas a verdade, com rigor, que te farás abençoado na vida.
Na alegria ou na dor, no verbo ou no silêncio, no estímulo ou no aviso, acende a luz do amor no coração e age com bondade.
Cultiva a brandura sem afetação. E a sinceridade, sem espinhos. Somente o amor sabe ser doce e afável.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Os dois montes.

No ano 100 a. C., foi edificada a fortaleza de Massada, nome derivado desse imenso planalto na Cordilheira da Judeia.
Toda a região era árida, o clima hostil e ardente. Poucas vezes, as chuvas amenizavam o tormento das pedras calcárias que os ventos e as poucas torrentes cavavam, produzindo abismos.
O deserto da Judeia pode ser comparado a muitos sentimentos humanos, nos quais não brotam as delicadas expressões da gentileza, do amor, da compaixão ou da solidariedade.
Na solidão do deserto são inevitáveis a morte ou a comunhão com a Divindade.
Após a queda de Jerusalém, algumas centenas de pessoas buscaram abrigo em Massada.
Então, oito mil soldados sitiaram a fortaleza. Depois de vários meses, conseguiram penetrar a forte muralha.
Mas, as novecentas e setenta pessoas, entre crianças, mulheres e homens haviam sido mortas e o autor se suicidara.
Tudo para não se renderem aos romanos.
Sobreviveram à tragédia duas mulheres e cinco crianças, que se esconderam, e mais tarde narraram o acontecimento pavoroso.
Massada passou para a História como o triunfo, a vitória da liberdade sobre a escravidão, pela prática generalizada de crimes de homicídio e suicídio.
*   *   *
Na fértil e verde Galileia existe um monte de menor altura de onde se contempla o mar generoso e rico de peixes.
A natureza ali é alegre, as flores desabrocham.
Tudo fala de vida social pacífica, de amizade, de lutas e de esforços para a sobrevivência no dia a dia existencial.
O rio Jordão é o responsável por aquele abençoado mar, que as barcas atravessam de um lado para o outro entre as inúmeras cidades que o embelezam, como pérolas num colar.
Nesse local, Jesus ensinou as mais valiosas lições da Sua doutrina.
As bem-aventuranças tornaram-se o hino internacional de beleza e de misericórdia, de vida exuberante e de esperança, de emoções sublimes e de venturas.
O poema tomou conta das mentes e dos corações dos simples em espírito, dos mansos e pacíficos, dos esfaimados e sedentos de paz e justiça, dos misericordiosos, dos perseguidos.
Aquela região é abençoada pela beleza e pelo perfume de uma quase eterna primavera, com lembranças felizes e alegrias renováveis.
No monte das bem-aventuranças o verde continua e a suave melodia, que ali foi cantada, permanece engrandecendo as vidas que se movem em sua volta como símbolo de grandeza do amor.
Ali foram estabelecidas as bases éticas e morais da doutrina de Jesus.
Nunca mais se ouviu nada que se igualasse ao que ali foi apresentado.
Na sociedade terrestre existem pessoas que fazem recordar Massada, temida e detestada, dominadas pela força bruta e pela ambição desmedida.
Também existem pessoas que são semelhantes às paisagens do outro monte, o das venturas excelsas, da generosidade ímpar, da renúncia e da abnegação, do sacrifício da própria vida em favor do seu irmão.
Massada continua ardente quase sempre ou gelada nos dias frios do inverno.
O monte esperança permanece agasalhador e vital para o ser humano, ameno e gentil, evocando o amor.
O que somos nós: o monte árido ou o monte da esperança?
Pensemos nisso.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O manacá.

O manacá é uma planta conhecida da Mata Atlântica e espalhada por todo o Brasil.
Ela se adapta bem aos solos pobres, por isso mesmo recomendável para o povoamento de áreas devastadas.
Possui considerável valor ornamental, podendo ser usada em maciços ou isoladamente, na composição dos jardins.
De um modo geral, a coloração das flores ao abrir é branca, alterando depois para o lilás e o roxo-violáceo.
Um manacá em flor proporciona um verdadeiro show natural, que merece admiração.
Possivelmente por esse motivo aquele projeto de árvore, miúdo, baixinho, nos chamou a atenção.
Na sua pequenez, apresentava-se carregado de flores. Não se sabia, de imediato, se era um arbusto florido ou um ramalhete de flores coloridas que alguém plantara na terra.
Ele mostrava todo seu viço ao sol da manhã e nos detivemos alguns minutos contemplando-o.
Como podia aquela árvore minúscula assim se mostrar rica de flores? Ela mal colocara o caule reduzidos centímetros acima do solo...
E, olhando-o, entre o espanto e a admiração, é como se ouvíssemos o manacá nos dizer: Eu sou um manacá. Fui plantado para florir, para embelezar este lugar.
Então, veja o que eu fiz. Eu floresci. Não importa que eu seja minúsculo, eu fiz a minha parte, eu cumpri a minha missão.
Sou flores, cores, beleza.
*   *   *
Deveríamos ser como o manacá: atender nossa missão, não nos considerando pequenos, ou inúteis.
Importante é que façamos aquilo para o qual viemos para este mundo. Ou seja, progredir.
E para progredir temos que estudar, reflexionar, ler, meditar.
Aprender e executar. Realizar a parte que nos toca no concerto da Criação.
Viemos ao mundo para cumprir um plano. E ninguém é pequeno demais para atender o que lhe foi estabelecido ou escolheu, por vontade própria, antes de nascer.
Podemos não conquistar o primeiro lugar no curso em que nos matriculamos, mas podemos conclui-lo com honra, extraindo dele o melhor.
Podemos não ser o funcionário número um em desempenho, mas podemos realizar a função que nos cabe com seriedade, disciplina, da melhor forma que nos permitam nossas habilidades.
Podemos não falar várias línguas mas podemos utilizar palavras preciosas do nosso idioma, como obrigado, por favor, é possível?
Podemos não ter o QI mais elevado da equipe profissional, mas podemos desenvolver a consciência do dever retamente cumprido.
Podemos ser os únicos a atravessar a rua na faixa de pedestres, a ceder nosso lugar no coletivo a quem reconhecemos ter alguma dificuldade na sua mobilidade.
Podemos ser os únicos a cumprir todos nossos deveres, a pagar todas as nossas contas, a honrar nossos compromissos.
Podemos, enfim, ser como o manacá. Um ser minúsculo que acredita não será jamais notado.
Mas, exatamente imitando-o, podemos surpreender a quem se aproxime de nós pela nossa gentileza, nossa disposição de servir, nossa vontade de ajudar.
Permitamos, pois, que qualquer que se nos aproxime receba o perfume da nossa boa vontade, as cores da nossa fraternidade, a beleza da nossa solidariedade.
Pensemos nisso. Sejamos no mundo, o manacá minúsculo, na aridez das pedras, explodindo em cores e perfumes, embelezando as veredas, surpreendendo as pessoas.

Doe Sangue

Doe Sangue