terça-feira, 27 de março de 2018

Inconstância humana.

Com tantas ferramentas ágeis de comunicação, têm se tornado comum denúncias de profissionais.
São relatos de mau atendimento, em que se misturam a desconsideração, o descaso, a grosseria, até o que é considerado arrogância e incompetência.
Qualquer pequeno descuido merece muitas e muitas críticas, a que se somam seguidores e pessoas azedas, que acreditam que todos têm má intenção para com elas.
Interessante que um mesmo profissional é apresentado por uns como um semideus, enquanto outros o classificam como um monstro.
Soubemos de um médico que salvara a vida do pai de um jovem.
O narrador relatou como verdadeiro milagre o que tinha ocorrido com seu pai, desenganado num primeiro momento.
O médico oferecera esperança mínima à família, dada a complexidade do procedimento diante da enfermidade. Nada mais do que um por cento de chance de sobrevivência.
Mas, a cirurgia tivera sucesso. E bons anos rolaram. Anos nos quais o paciente gozou de saúde satisfatória.
Surgindo uma complicação, a família procurou o mesmo médico, desde que, anteriormente, se revelara tão eficiente.
Consultado, disse que tudo seria muito simples, algo como tirar um cisco do olho. Que todos ficassem tranquilos.
Contudo, o paciente morreu.
Então, a família, que tanto elogiara e indicara aquele facultativo, revoltou-se. E o declarou incompetente, negligente.
Acusou-o de ser o responsável por encurtar a sobrevida do seu familiar.
Que paradoxo. Num momento, um herói, um santo. Em outro, não alcançado o objetivo, um vilão, um usurpador da vida.
*   *   *
Interessante analisarmos como somos volúveis. Passamos de um sentimento a outro em segundos.
Se compulsarmos a História, veremos que, de um modo geral, assim temos nos comportado.
O povo que gritou Hosanas ao Senhor Jesus, ao adentrar Jerusalém, foi o mesmo que, poucos dias depois, pediu a Sua crucificação, ante a indagação do procurador Pôncio Pilatos.
Os que haviam recebido tantas bênçãos de Suas mãos, os que haviam sido curados, os que haviam readquirido a visão, a audição, a mobilidade, onde estavam?
Em tão pouco tempo, haviam esquecido os benefícios recebidos?
Ainda somos as pessoas que enterramos, facilmente, o sentimento de gratidão.
Os que ontem nos beneficiaram, os que nos estenderam as mãos, nos sustentaram na adversidade, transcorrido um tempo, por nos desagradarem, por não atenderem a nossas vontades, são os mesmos que apontamos como intolerantes, maus, grosseiros.
Onde a nobreza do gesto de reverência por quem nos serviu ontem?
Onde o agradecimento despojado de interesses, que deveria ser nossa marca registrada?
Juízos apressados não poupam ninguém. E, normalmente, são causa de muita injustiça.
Sejamos mais ponderados e cuidadosos em nosso proceder. Aprendamos a ser cordatos, a pensar antes de agir, a mensurar o que falamos, o que postamos, o que expomos.
Vidas podem ser destruídas em segundos. Carreiras sólidas, construídas com esforço e dedicação, também.
Guardemos o ensino de Jesus: com a medida com que medirmos os outros, seremos medidos.
E com o critério que julgarmos os outros, igualmente seremos julgados.
Pensemos nisso.

terça-feira, 20 de março de 2018

Desafios da vida.

Abrir a caixa de um quebra-cabeças pela primeira vez, desses de milhares de minúsculas peças, é como se deparar com um grande desafio da vida.
Num primeiro momento, parece impossível. As partes são muito parecidas. Algumas delas, somos capazes de jurar, são idênticas em cor, formato e encaixe.
Como encontrar cada pedaço de um céu azul da paisagem, se todos são iguais? Por que essa peça iria aqui e não ali? Como distinguir cada peça verde de uma grande mata se todas têm nuances de cor tão similares?
Alguns se desesperam: Isso não é para mim! O que eu estou fazendo aqui? – Dizem.
Existem aqueles que simplesmente desistem.
Outros ficam ali, olhando por alguns minutos, atônitos...
Por onde começar?
Se temos paciência e um pouco de perseverança, observamos a imagem da caixa. A pintura, a paisagem bela que daquela confusão poderá sair um dia, quem sabe...
E ela parece nos dizer: Vale a pena tentar! Será compensador!
Olhamos para a caixa, olhamos para as peças. E tornamos a olhar.
Então, um fenômeno interessante começa a acontecer. Conforme vamos focando em um ponto da imagem, nosso cérebro vai passando uma revista pelas peças, uma revista detalhada.
Aí, aquelas pecinhas que pareciam ser todas iguais, da mesma cor, começam a se mostrar um pouco distintas. Elas têm pequenos detalhes que as diferenciam umas das outras. Até as cores não são as mesmas.
No azul encontramos diferentes tons e nessa e naquela há uma pequena mancha na ponta que não havíamos visto antes.
Tudo acontece em função do foco. Estamos focados, atentos, dedicados.
Nunca conseguiremos resolver problemas e vencer desafios sem foco, sem atenção.
Nesse momento, o peito ansioso acalma. A respiração muda. A visão parece ficar mais poderosa. Estamos enxergando coisas que não enxergávamos antes!
Nossa performance melhora. Vislumbramos alguma forma. São quinze, vinte peças juntas que nos animam a continuar, até que chega um momento terrível: a procura por uma peça específica que parece não estar na mesa.
É uma peça fundamental, importante para terminar aquela fase, ou uma área determinada, e não a encontramos.
Tudo para...
Voltamos a pensar que não somos capazes de concluir.
*   *   *
Assim também acontece com os problemas complexos.
Nesse caso, temos dois caminhos a seguir. O primeiro é darmos uma pausa, mudarmos os pensamentos, sair, arejar a mente, falar sobre outras coisas. Darmos tempo ao tempo.
O segundo é pedir ajuda. Afinal, quem disse que temos que resolver nossos problemas sozinhos?
Não há vergonha nisso. Não é sinal de fraqueza. No exemplo de que nos servimos, montar um quebra-cabeças na companhia de alguém é muito mais divertido.
Veremos que logo estaremos no caminho novamente e que uma ajuda é sempre muito bem-vinda.
Por fim, encarando os desafios de frente, passando pelos problemas e passando bem, iremos perceber que saímos mais fortes, mais maduros, assim como quem termina a montagem de um quebra-cabeças.
E levaremos conosco a lição da concentração, da perseverança, da tranquilidade, pelo êxito alcançado, pela dificuldade vencida.

terça-feira, 13 de março de 2018

Poema para Deus.

Um dia, a alma desperta e se encanta com a manhã que se espreguiça no horizonte.

Sente-se como que a pairar acima e além da escala humana.

Então, se recorda ser filha de um Pai amoroso e bom. Recorda de um Criador que a tudo para todos provê.

E plena de gratidão, extravasa em versos sua alma:

Deus, inteligência das inteligências, causa das causas, lei das leis, princípio dos princípios, razão das razões, consciência das consciências.

Bem tinha razão Isaac Newton ao descobrir-se, toda vez que pronunciava Vosso Nome.

Deus, Pai bondoso, eu vos encontro na natureza, Vossa filha e nossa mãe.

Eu vos reconheço, Senhor, na poesia da Criação, no vento que dedilha harmonias na cabeleira das árvores.

Nas cores que se apresentam tão diversificadas em matizes e gradações.

Nas águas que rolam, silentes, em córregos minúsculos, nas cachoeiras que se lançam, ruidosas, de alturas consideráveis, no verdor da grama que atapeta o jardim e as praças.

Reconheço-vos, Pai, na flor dos jardins e pomares, na relva dos vales, no matiz dos campos, na brisa dos prados.

Senhor, eu vos encontro no perfume das campinas, no murmúrio das fontes, no rumorejo das menores ramificações das copas das árvores.

Também vos descubro na música dos bosques, na placidez dos lagos, na altivez dos montes, na amplidão dos oceanos, na majestade do firmamento.

Eu vos vejo, Senhor, na criança que sorri, brinca, pula e distribui alegrias, provocando risos.

Eu vos reconheço, Pai, no ancião que anda lento, que tropeça. Mas, sobretudo, na inteligência que ele revela, resultado de suas experiências bem vividas.

Eu vos descubro no mendigo que implora, na mão que assiste, na mãe que vela, no pai que instrui, no apóstolo que evangeliza.

Deus! Reconheço-vos no amor da esposa, no afeto do filho, na estima da irmã, na misericórdia indulgente.

E vos encontro, Senhor, na fé do que a tem, na esperança dos povos, na caridade dos bons, na inteireza dos íntegros.

Reconheço-vos, Senhor, na inspiração do poeta, na eloquência do orador, na criatividade do artista.

Também vos encontro na sabedoria do filósofo, na intelectualidade do estudioso, nos fogos do gênio!

E estais ainda nas auroras polares, no argênteo da lua, no brilho do sol, na fulgência das estrelas, no fulgor das constelações.

Deus! Reconheço-vos na formação das nebulosas, na origem dos mundos, na gênese dos sóis, no berço das humanidades, na maravilha, no esplendor, no sublime do infinito!

Por fim, entendo, com Jesus, quando ora:

Pai nosso, que estais nos céus...

Ou com os anjos quando cantam: Glória a Deus nas alturas...

terça-feira, 6 de março de 2018

Educando nossos pequenos.

Quando o pai de Blaise Pascal entrou no quarto do menino e viu o soalho tomado por barras e rodas, não o puniu.
Indagou-se o que seria aquilo tudo. Em verdade, rodas e barras eram círculos e as linhas retas da geometria.
Logo mais, o garoto provaria que a soma dos ângulos de um triângulo perfaz dois retos, resolvendo num passatempo, o trigésimo segundo teorema de Euclides, cujo nome ele ignorava.
Quando nos encantamos com os tantos inventos de Leonardo da Vinci; quando vemos os tantos esboços que fez em papéis e mais papéis; quando lemos a respeito da sua precocidade, sua genialidade, que parecia não poder ser contida, não deixamos de pensar o que teria sido daquele menino se seu pai não tivesse prestado atenção àquilo tudo.
O genitor reuniu alguns dos trabalhos de Leonardo e os encaminhou para o escultor, ourives e pintor Andrea Del Verrocchio, figura de grande importância no âmbito das artes.
Isso fez com que Leonardo fosse admitido na sua oficina, como aprendiz. Estava aberto o caminho para a expressão da sua genialidade.
Lemos que uma criança de seis anos utilizou a parede da sala de estar para desenhar uma casa.
Isso não é novidade. Crianças de diferentes idades, em um momento ou outro, resolvem pintar a parede da casa dos pais.
A questão é como a família reage. Normalmente, os pais fazem o filho limpar a bagunça para que nunca mais torne a fazer nada semelhante.
Bom, o pai do garotinho, ao encontrar a simpática casinha desenhada, ficou imaginando o que diria sua esposa. E o que ela faria.
A atitude foi, no mínimo, inusitada. Ao ver o desenho, ela emoldurou o que considerou uma obra de arte e transformou a sala da família em uma galeria.
Além da tradicional moldura, a obra do pequeno recebeu uma placa de identificação, como nos grandes museus.
Na primeira linha, o seu nome e a data do seu nascimento. Na sequência, o título da obra prima: Casa interrompida. E o ano da sua criação, 2017.
Naturalmente, não podia faltar o material utilizado para a pintura: Canetinha em pintura de látex. Dado aos seus pais, de surpresa, em 13 de novembro.
O que terá pensado essa mãe? Talvez tenha cogitado ser a primeira expressão de um grande pintor.
Ou talvez não tenha querido frustrar a primeira tentativa, desejando incentivá-lo a prosseguir na sua arte. Com certeza, lhe providenciando material devido para isso.
O que chama a atenção, contudo, não é o fato de uma parede da casa ter sido pintada dessa forma.
O que sobressai é que essa mãe pensou mais no filho do que no que é material e pode ser lavado, substituído, arrumado.
É nesse sentido que o gesto merece ser analisado. É de nos questionarmos como temos considerado as peraltices dos nossos filhos.
Será que somente os temos podado em suas ações ou temos parado um pouco, observado e tentado verdadeiramente entender para educar de forma adequada?
Educar requer tempo, dedicação, atenção. Atenção ao que o filho fala, escreve, cogita, às ideias que expressa.
Quantas vezes temos, simplesmente, levado à conta de tolices tanto do que diz, do que faz?
Eis uma boa oportunidade para nos indagarmos: Estamos nos preocupando, verdadeiramente, com a educação do nosso pequeno?
Estamos ouvindo-o, observando-o, descobrindo o de que ele verdadeiramente necessita para se tornar um bom cidadão, um homem para o mundo?
Pensemos nisso.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Dar conta da administração.

Aos Amigos e Leitores do Jornal Mundo Maior,  sinceras desculpas pelo atraso no envio da mensagem, ocasionado por uma falha técnica.
Fraterno abraço. 
Jornal Mundo Maior.

"Dar conta da administração."
Toda vez que buscamos as palavras de Jesus, nelas encontramos motivos de profundas reflexões.
Quando Ele narra aos discípulos a parábola de um homem rico que tinha um feitor infiel, que dissipou seus bens, faz-nos uma grave advertência: todos teremos que dar conta da nossa administração.
Talvez você já tenha respondido mentalmente que nada administra e que, portanto, de nada terá que dar conta.
Todavia, um exame mais detido nos leva a perceber que todos nós somos administradores em níveis variados.
Somos, no mínimo, administradores de nossa própria vida, e isso já é bastante.
Individualmente cada um administra seu tempo, suas atividades, e tudo isso acarreta a responsabilidade pessoal pelos próprios atos.
Os pais são importantes administradores, não só no que diz respeito à organização e harmonia do lar, mas também na grave questão da educação dos filhos.
Certamente teremos que dar contas à Divindade da administração desse departamento chamado lar.
No campo profissional não é diferente. Não importa em que setor da vida trabalhemos, teremos que prestar contas do que temos feito.
Sejamos nós um limpador de rua, lavrador, jardineiro, professor, médico, arquiteto, político, ou tenhamos outra profissão qualquer, dela teremos que prestar contas um dia.
Todos, sem exceção, nascemos com as possibilidades que precisamos para nossa evolução.
Dessa forma, devemos florescer onde fomos plantados pelo Pai amoroso e justo, que nos concede, não o que gostamos ou queremos, mas o de que necessitamos.
A nossa dedicação, os esforços que empreendermos por desempenhar bem a parte que nos cabe no conjunto, podem parecer insignificantes, mas serão de grande valia quando tivermos que responder, diante das leis que regem a vida, o que fizemos da nossa administração.
E quanto maior é o nosso raio de ação, a influência que exercemos sobre pessoas e situações, maior a nossa responsabilidade.
Se, no contexto em que estamos inseridos, dissipamos os recursos que Deus nos confia, agindo como o feitor infiel, as consequências, por certo, serão amargas.
E se isso acontecer, a ninguém teremos que culpar a não ser a nós mesmos.
Na avaliação da nossa administração muitos fatores serão considerados: os talentos pessoais, as possibilidades físicas e psíquicas, a disponibilidade de bens materiais, o apoio de familiares e amigos, enfim, tudo o que temos ao nosso alcance.
Por isso, é importante que façamos, desde agora, uma avaliação de como tem sido nossa administração. E, caso constatemos que não tem sido das melhores, esforcemo-nos para melhorar o nosso desempenho.
*   *   *
O cientista, no conforto do laboratório, e o marinheiro rude, sob a tempestade, estão trabalhando para o Senhor; entretanto, para a felicidade de cada um, é importante saber como estão trabalhando.

Doe Sangue

Doe Sangue