terça-feira, 30 de maio de 2017

Servidores de Deus.

Numa sala de audiências do Vaticano, o papa Joao Paulo II recebeu a visita de uma das mais altas autoridades religiosas do judaísmo, Israel Meir Lau, o grão rabino do Estado de Israel.

O papa já se encontrava com a síndrome de Parkinson, por isso foi pedido que a entrevista não se alongasse em demasia.

O rabino tomou a palavra e iniciou interessante relato:

Em 1942, numa aldeia no norte da Polônia, os nazistas, fazendo a seleção dos judeus para os campos de extermínio, levaram um pai de família.

A esposa, que ficara com um filho de apenas dois anos, temeu ser a próxima vítima e decidiu salvar o filho.

Muito amiga de uma mulher católica, a procurou para que adotasse o seu menino.

A senhora pensou um pouco e concordou. Nesse exato momento, a dama judia lhe fez um pedido:

“Há um detalhe, no entanto. Meu filho é judeu e tenho certeza de que ele veio à Terra para uma missão muito especial.

Então, quando essa guerra acabar, e um dia haverá de acabar, eu peço que mande meu filho para Israel, para que ele possa desenvolver o ministério que Jeová lhe destinou.”

Ante a concordância da amiga, ali ficou a criança.

Naquela semana, a mãe judia foi levada para o campo de extermínio.

O tempo passou. Acabou a guerra. Quando a criança completou seis anos, em 1946, a mãe adotiva o desejou batizar na igreja de sua fé.

Mas, lembrou da promessa. E agora, o que fazer?

Então, ela procurou o pároco da sua aldeia para se aconselhar.

Depois de ouvi-la, ele lhe deu uma resposta rápida e segura:

“Como cristã, você não pode defraudar a confiança que aquela mulher levou ao túmulo. Assim, você deve mandar o menino para Israel, conforme se comprometeu.”

Com o coração em frangalhos, ela se despediu do filho adotivo e o encaminhou a Israel. Manteve correspondência com ele, visitou-o várias vezes.

Então, Santidade, quero lhe dizer que aquele menino se tornou um rabino. Aquele menino sou eu.

O fato pareceu muito interessante a Karol Wojtyla, mas passou a ser realmente comovedor quando o grande rabino concluiu:

Sua Santidade sabe o que é mais importante nisso tudo? Sabe quem foi o sacerdote que aconselhou aquela mulher, naquele ano de 1946?

Aquele sacerdote era Sua Santidade, na época pároco da aldeia.

Os dois se abraçaram, envolvendo-se em lágrimas.

Um era o representante da nação católica. Outro, um rabino israelense, reverenciado por judeus e não judeus no mundo inteiro.

Tinha razão aquele coração de mãe em dizer que seu filho tinha uma missão. E visão de verdadeiro homem de bem aquele pároco, que bem aconselhou a mãe adotiva.

*   *   *

Os grandes homens vêm ao mundo para servir ao bem. Sua causa é a Humanidade, a paz, o amor, acima de qualquer seita, doutrina ou religião que seguem.

E o Divino Pai os coloca em muitos lugares do planeta, a fim de que todos os Seus filhos, neste bendito lar chamado Terra, possam sentir de mais perto o hálito do Seu amor, pela palavra dessas criaturas.

Sentir o Seu abraço através dos braços de homens e mulheres que no mundo se entregam ao serviço dos seus irmãos.

E esta é a grande verdade: somos todos filhos do mesmo Pai, vivendo neste planeta azul, com o objetivo de nos amarmos e crescer, até alcançar as estrelas.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Pequenos gestos de amor.

Aquele era mais um dia, numa grande cidade, dessas comuns, que encontramos esparramadas pelo país.

A urgência habitual fazia com que as calçadas ficassem repletas de pessoas, que corriam, nas suas preocupações do dia a dia.

Com ela não era diferente. Apressava-se na saída do metro, visando desembocar na grande avenida que a levaria aos seus compromissos.

E eram tantos. Pela memória, ia repassando o roteiro das tarefas que lhe competia realizar nas próximas horas.

As escadas rolantes a conduziram para a calçada e para um encontro inesperado.

Justo em sua frente, um jovem. O rosto se escondia atrás da sujeira. Os olhos saltados das órbitas denunciavam o consumo de entorpecentes. As roupas maltrapilhas indicavam o abandono de tudo.

Sua primeira reação foi de medo, de defesa.

Lançou-lhe um olhar assustado, ao mesmo tempo em que levava as duas mãos à bolsa, num movimento de proteção.

Ele a olhou com o resto de lucidez que ainda tinha, e lhe disse: Eu não quero nada, não vou lhe tomar nada.

A reação do rapaz a surpreendeu. Esperava que ele fosse lhe arrancar a bolsa, dar voz de assalto, fazer algum gesto de violência.

A surpresa a fez mudar de postura corporal. Mudou também seu olhar.

Ele então completou a frase: Eu só queria algum dinheiro para a próxima dose.

A dor com que aquela frase foi dita lhe cortou o coração. Pensou em como aquela vida estava se esvaindo na dependência infeliz.

O que fazer por ele?

De imediato, ocorreram-lhe à mente as lições do Evangelho de Jesus.

Ao pensamento, veio-lhe a frase à boca, quase sem raciocínio, mas cheia de sentimento:Eu não posso, não quero lhe dar o dinheiro para a próxima dose, mas posso lhe dar um abraço.

Sem que o jovem pudesse compreender o que se passava, ela o abraçou. E ficou assim, envolvendo-o, demoradamente.

Foram alguns segundos eternos, que a ambos emocionou até às lágrimas.

Ela, condoída pelo jovem desiludido. Ele, impactado pelo gesto de amor inesperado.

Ao afastar-se do abraço, ainda surpreso pelo gesto fraterno, carinhoso, que recebeu, confessou:

Eu estava a ponto de me matar. Nada mais valia na minha vida. Já não me reconhecia como gente. Vivia uma vida de bicho, e era tratado como tal.

Você me lembrou de que sou gente, você me tratou, como há muito não acontecia: como gente. Muito obrigado!

E do mesmo modo como apareceu, sumiu entre a multidão. Ela ficou ali, deixando-se inundar pelas lágrimas, feliz por ter seguido seu impulso de amor.

*   *   *

Assim se aprende a amar. Tratar aos outros, não importa quem, como gostaríamos que fizessem conosco, ou com algum dos nossos.

Vencer o medo, oferecer o que temos de melhor no coração, nem que seja pelo tempo de um abraço.

Às vezes, é apenas isso que um desconhecido precisa de nós. Uma palavra de otimismo, um sorriso generoso, um olhar de compreensão.

Pequenos carinhos, capazes de amenizar dores e de tratar feridas, dessas que todos trazemos na alma.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Um colar valioso

Usar, por alguns dias, a pulseira da mãe, era o sonho de consumo do pequeno Rick, de seis anos de idade.
Eles eram pobres e a pulseira não tinha muito valor, mas tanto o garoto insistiu que a mãe lhe entregou, mas recomendou que tomasse cuidado.
Rick colocou o cordão no pulso e se sentiu o homem mais feliz do bairro.
Jogava futebol com os amigos, de pulseira. Ia comprar pão, com a pulseira e na escola ele exibia sua preciosidade sempre que podia.
As semanas se passaram e, como sempre acontece com as crianças, um dia aconteceu com Rick. Uma distração e ele se deu conta de que havia deixado a pulseira em algum lugar.
Procurou por todos os cantos e... nada.
Ele estava sozinho em casa. A mãe estava no trabalho. Mas, e quando ela chegasse, como lhe contaria a tragédia?
Mil preocupações surgiram naquela cabeça infantil. E a mais cruel era a de ter perdido o que ele considerava ser o único tesouro da sua mãe.
Depois de muitas cogitações, ele tomou uma difícil decisão: iria embora de casa.
Jogou algumas roupas dentro da velha sacola e saiu porta afora.
Não foi muito longe e ouviu uma voz bem conhecida... Era o Sr. Severino, um velhinho bom que morava na vizinhança.
Ei, aonde você vai com essa trouxa nas costas, Rick?
Preocupar-se com os filhos alheios não é muito comum nos grandes centros mas, nos vilarejos de gente pobre, os vizinhos se importam uns com os outros.
Vou embora. Respondeu, cabisbaixo, o menino.
Mas a sua mãe não está em casa. É melhor você esperar que ela chegue, senão ela ficará aflita quando não o encontrar.
O garoto costumava ouvir os mais velhos, então voltou, é claro, na companhia do velho Severino.
Quando a mãe chegou já estava escuro. Mal entrou e já sentiu algo no ar, pois as mães sempre sentem quando tem alguma coisa errada com seus filhos.
O que houve, Sr. Severino? Perguntou logo.
Ele se aproximou e lhe falou baixinho o que havia acontecido. Ela, já em lágrimas, entrou no quarto, onde o pequeno Rick estava escondido e o abraçou com ternura.
Meu filho, você ia embora sem avisar a mãe?
Por que ia fazer isso, meu anjo?
Mãe, lembra daquela pulseira que você me emprestou e me pediu para ter cuidado?
Sim, disse a mãe!
Eu não sei como aconteceu, mas perdi, mãe.
Quando notei, eu procurei, procurei, mas não achei. Então fiquei com medo e com vergonha, e por isso eu ia embora de casa, pra não ver você triste.
Ora filho, eu ia ficar muito triste se você tivesse ido. Nunca mais pense nisso!
E a pulseira? Perguntou, mais aliviado.
Ah, meu anjo, aquela pulseira tinha pouco valor. Um dia, quem sabe, nós compremos outra.
Mãe, eu quero lhe dar um belo colar. Você sabe quanto custa um?
Não faço ideia, mas eu já tenho o colar mais valioso do mundo. E sabe qual é?
Não, mãe, eu nunca vi você de colar.
Pois bem, disse a mãe, puxando os bracinhos do filho e os envolvendo no pescoço.
Filho, o seu abraço é o colar mais valioso do mundo, para mim. E eu desejo tê-lo para sempre. Promete que nunca mais vai pensar em ir embora?
Rick sorriu, aliviado, e encheu o rosto da mãezinha de beijos.
*    *   *
Não há tesouro mais valioso do que os filhos.
Um filho é a prova da confiança de Deus aos pais.
Mas os filhos nem sempre sabem que são valiosos para seus pais. É preciso dizer isso a eles, sempre.
E você, já disse isso ao seu filho, hoje?

sábado, 13 de maio de 2017

Feliz Dia das Mães

A estrela.
Certa noite, eu tive um sonho. Era garoto ainda e andava um tanto birrento com minha mãe. Afinal, em minha adolescência eu acreditava que ela era do contra.
Tinha muitos não para mim e isso fazia com que eu achasse que ela era uma grande chata.
No sonho que tive, encontrei meu anjo de guarda. Era um mensageiro de luz, com um sorriso bondoso e amigo.
Vem. – Disse-me ele.
Confiante, me entreguei em seus braços. Logo mais nos encontrávamos em pleno firmamento.
A beleza das estrelas me encantou. Cada uma tinha um brilho maior, mais especial do que a outra.
Não cabia em mim de tanta alegria e desejava que o passeio se alongasse até a eternidade.
Observei então que, entre tantas estrelas, havia um espaço vazio. É como se faltasse uma delas.
Não consegui suportar a curiosidade e perguntei ao mensageiro que me guiava:
Anjo bom, para onde foi a estrela que estava aqui?
Foi para a Terra. - Respondeu ele.
Como eu não a vi por lá? Jamais vi uma estrela na Terra. Elas vivem no firmamento.
Ela se dividiu em pedacinhos para cumprir a missão que Deus lhe confiou. – Explicou o anjo.
Quem é ela?  - Perguntei, ardendo de curiosidade.
Ela é auxiliar de Deus, materializando a vida na Terra. É forte como um gigante. Contudo, tem a fragilidade de uma flor. Seu toque é suave e aveludado como as pétalas da rosa.
No seu coração, Deus colocou a força do Universo e o segredo da felicidade. É através de suas entranhas que a vida se renova. Pelo seu amor os mundos se modificam.
Portal da vida em que se transformou, acolhe com carinho em seu ventre os brutos e os santos, os sábios e os ignorantes, os justos e os injustos.
Em seu seio todos encontram acolhida. Ela tem a capacidade de brilhar por toda a noite. Quando chega o dia, deixa-se ofuscar pelo astro maior, o sol, em torno do qual gira a sua existência.
Para ela não há estação chuvosa. É sempre primavera em seu coração, embora possam soprar ventos da adversidade e se levantarem ondas de pessimismo.
Enquanto o anjo continuava a falar, fui tomado por uma sensação de queda e acordei nos braços de minha mãe.
Então compreendi. Ali mesmo, aconchegando-me ao seu coração, estava um pedaço enorme daquela estrela.
*   *   *
Enquanto na Terra os homens desejam ostentar medalhas no peito, uma mulher existe que se apaga para que possa aprender a brilhar o filho de suas entranhas.
Não importa a nacionalidade, a raça ou a crença religiosa, mãe é sempre alguém muito especial.
Alguém que ama sem esperar retribuição, educa sem aguardar salário e tem a incansável capacidade de repetir e reprisar lições centenas de vezes, até serem aprendidas pelo objeto do seu amor.
De todas as formas de amor que a Terra conhece, o amor materno é a mais sublime, por se constituir para a alma humana na mais grandiosa escala de doação e serviço.
Se temos nossa mãe ao nosso lado, aproveitemos para envolvê-la em um abraço de profunda gratidão.
Se ela já retornou para o mundo espiritual, ofertemos-lhe as perfumadas rosas da ternura do nosso coração, hoje, agora e em todos os dias da nossa existência.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Medos infundados.

Declinava o dia e as sombras da noite se avizinhavam. Na casa, as luzes foram acesas.
Retornando das atividades profissionais, a mãe, envolvida em preparar o jantar, atender a pequena que chegara da escola, ia de um lado a outro, a fim de que tudo ficasse pronto, no tempo devido.
A garota de cinco anos foi até a cozinha. Afinal, depois de ficar distante da mãe tantas horas, desejava estar com ela.
Sentou-se à mesa e ficou observando. Então, de repente, exclamou:
Nossa, mãe, eu vi um vulto preto enorme atrás de você.
A senhora se assustou: Vulto preto, enorme, atrás de mim? Meu Deus, o que será que minha filha está vendo?
Pela sua memória, repassou os últimos minutos de relance.
Teria se alterado? Por que estaria atraindo para o seu lar algo ruim?
Um Espírito mau a estaria acompanhando? Sua casa estaria à mercê de Espíritos de qualidade inferior?
Tentou acalmar os próprios pensamentos e, numa tentativa de tranquilizar a filha, a fim de que não se apavorasse, indagou: Como era esse vulto grande, filha?
Ah, ele era preto, grandão, e ficava se mexendo atrás de você.
Então, a mãe olhou para a parede e viu a sua sombra projetada. Era escura e proporcionalmente maior do que sua própria estatura.
Sossegou a alma e explicou: Filhinha, é a sombra da mamãe.
Está vendo? Eu levanto o braço, a sombra levanta. Eu ando, a sombra me acompanha.
E fez diversas brincadeiras, que levaram ambas a rir de forma descontraída.
*   *   *
Em nosso cotidiano, muitas vezes, fatos nos ocorrem, que nos atemorizam. Alguém nos faz uma observação e, de nossa parte, deduzimos questões nem sempre positivas.
A simples observação de uma criança pode desencadear desassossego e nos levar a ponderações inconsequentes.
Por isso, sempre importante que mantenhamos a mente alerta e, antes de pensar tolices, verificar o que é real, dentro da informação que nos chega.
Alguns de nós, por vezes, nos deixamos envolver por medos tolos e sem razão alguma.
Ante algo que nos pareça mau, tenhamos a certeza de que, se nos encontramos no caminho do dever, buscando realizar o melhor, somente teremos conosco os Espíritos do bem.
Deus, que é Pai de amor e bondade, vela por nós, tem Seus olhos atentos sobre todos Seus filhos.
Temos nosso anjo de guarda, especialmente designado por Deus, para cuidar de nós.
Temos ainda os Espíritos do bem, que nos secundam as atividades que desenvolvemos em prol do progresso dos nossos amores e do nosso próximo.
Também os Espíritos simpáticos às tarefas em que nos envolvemos, na profissão, nas artes, no estudo.
Isso quer dizer que é bem maior o número de Espíritos bons que têm os olhos postos em nós do que, eventualmente, um ou outro de qualidade inferior.
Rodeados por uma nuvem de testemunhas, conforme dizia o Apóstolo Paulo de Tarso, guardemos a certeza de que se pensamos o bem, se realizamos o bom, somente teremos boas companhias.
Nós, nossos afetos, nosso lar.
Pensemos nisso e não nos deixemos afetar por medos infundados. Deus está conosco.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Lição de felicidade.

Foi num dia desses. Eram dois irmãos vindos da favela. Um deles deveria ter cinco anos e o outro dez. Pés descalços, braços nus. Batiam de porta em porta, pedindo comida. Estavam famintos.
Mas as portas não se abriam. A indiferença lhes atirava ao rosto expressões rudes, em que palavras como moleque, trabalho e filhos de ninguém se misturavam.
Finalmente, em uma casa singela, uma senhora atenta lhes disse: Vou ver se tenho alguma coisa para lhes dar. Coitadinhos.
E voltou com uma caixinha de leite. Que alegria!
Os garotos se sentaram na calçada. O menor disse para o irmão: Você é mais velho, tome primeiro...
Estendeu a caixa e ficou olhando-o, com a boca semiaberta, mexendo a ponta da língua, parecendo sentir o gosto do líquido entre seus dentes brancos.
O menino de dez anos levou a caixa à boca, no gesto de beber. Mas, apertou fortemente os lábios para que nenhuma gota do leite penetrasse. Depois, devolveu a caixinha ao irmãozinho: Agora é a sua vez. Só um pouco, recomendou.
O pequeno deu um grande gole e exclamou: Como está gostoso.
Agora eu, disse o mais velho. Tornou a levar a caixinha, já meio vazia, à boca e repetiu o gesto de beber, sem beber nada.
Agora você. Agora eu. Agora você.
Depois de quatro ou cinco goles, talvez seis, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, esgotou o leite todo. Sozinho.
Foi nesse momento que o extraordinário aconteceu. O menino maior começou a cantar e a jogar futebol com a caixinha. Estava radiante, todo felicidade. De estômago vazio. De coração transbordando de alegria.
Pulava com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas grandiosas sem dar importância.
Observando aqueles dois irmãos e o Agora você, Agora eu, nossos olhos se encheram de lágrimas.
Que lição de felicidade. Que demonstração de altruísmo. O maior, em verdade, demonstrou, pelo seu gesto, que é sempre mais feliz aquele que dá do que aquele que recebe.
Este é o segredo do amor. Sacrificar-se a criatura com tal naturalidade, de forma tão discreta, que o amado nem possa agradecer pelo que está recebendo.
Enquanto os dois irmãos desciam a rua, cantarolando, abraçados, em nossa mente vários ensinos de Jesus foram sendo recordados.
Fazer ao outro o que gostaria que lhe fosse feito.
O óbolo da viúva.
Amai-vos uns aos outros...
*   *   *
Coloca, nas janelas da tua alma, o amor, a bondade, a compaixão, a ternura para que alcances a felicidade.
Amando, ampliarás o círculo dos teus afetos e serás, para os teus amigos, uma bênção.
Faze o bem, sempre que possas. E, se a ocasião não aparecer, cria a oportunidade de servir. Deste modo, a felicidade estará esperando por ti.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Concretizando sonhos.

Haverá esperança para quem nasce no morro, na favela, em comunidades onde o que mais se fala e se vê é miséria, droga, violência?

Poderá sonhar com um mundo diferente a criança que, ao abrir a janela, se depara com a pobreza, o tráfico, o banditismo?

*   *   *

Foi no Natal de 2009, que o Brasil deu um raro presente ao Reino Unido.

No canal 4, exatamente no dia 25 de dezembro, em horário nobre na TV Aberta Britânica, foi ao ar o documentário Only when I dance.(Somente quando eu dançar.)

Uma diretora inglesa desejou mostrar uma história das favelas, diferente de tráfico de drogas e violência.

E encontrou Irlan Silva, bailarino clássico de apenas 19 anos, criado num dos morros mais violentos do Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão e atual integrante do prestigiado American Ballet Theatre.

Esse jovem, além de talento, tem uma grande disposição para contornar obstáculos. Enquanto participa de concursos nacionais e internacionais de dança, ele segue as atividades escolares e anos de estudo de balé clássico no Centro de Dança Rio.

Irlan teve que enfrentar, no início, a resistência que seu pai tinha em relação ao balé clássico. Resistência que cedeu quando ele assistiu ao primeiro espetáculo do filho e passou a apoiar o seu sonho de se tornar bailarino.

Irlan é um fenômeno que tira o fôlego do espectador, especialmente quando dança Nijinski. Apresentando-se na Suíça, arrancou lágrimas de uma das juradas.

O documentário Only when I dance mereceu do jornal americano The New York Times a comparação de Irlan a Billy Elliot da vida real.

Irlan começou a estudar balé aos 11 anos e não mede esforços para triunfar no palco. Tem muita determinação para enfrentar as adversidades com a cabeça erguida e postura de primeiro bailarino.

Impõe-se uma disciplina espartana de aulas e ensaios, além de cuidar da alimentação e do corpo.

Conta com o apoio da família mas venceu, sobretudo, graças à sua garra, a vontade firme de alcançar um sonho.

E a uma mulher extraordinária, Mariza Estrella, fundadora e diretora do Centro de Dança Rio, uma escola que tem 450 alunos e 80 bolsistas.

Ela é tia Mariza para os alunos de sua escola. Ela vibra com cada vitória de Irlan e de outros alunos tão extraordinários, como Thiago Soares, hoje primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres.

Também investe, além de si mesma, carinho para com cada aluno. Ela é a grande incentivadora, experiente, mestra, tutora.

Ela inscreve e acompanha os alunos nas principais competições de dança no Brasil e no Exterior.

Não é raro contribuir com dinheiro do próprio bolso, custeando despesas de alunos de famílias pobres que mais se destacam no circuito de concursos e festivais.

Nosso Brasil é verdadeiramente grande. Em extensão territorial e em coração.

Coração como o de tia Mariza que auxilia crianças e adolescentes alcançarem o seu ideal, exportando para o mundo o que o Brasil tem de melhor: a sua gente.

Pensemos nisso e verifiquemos como podemos contribuir, onde estejamos, para tornar realidade o sonho de um menino, uma menina, nossa gente brasileira.

Redação do Momento Espírita, com base no artigo
Do Complexo do Alemão ao American Ballet,
de Juliana Resende (Londres), publicado na revista
Época, de 4 de janeiro de 2010.

Doe Sangue

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