terça-feira, 29 de novembro de 2022

Oração nossa.


Senhor, ensina-nos:

A orar sem esquecer o trabalho;

A dar sem olhar a quem;

A servir sem perguntar até quando;

A sofrer sem magoar seja a quem for;

A progredir sem perder a simplicidade;

A semear o bem sem pensar nos resultados;

A desculpar sem condições;

A marchar para a frente sem contar os obstáculos;

A ver sem malícia;

A escutar sem corromper os assuntos;

A falar sem ferir;

A compreender o próximo sem exigir entendimento;

A respeitar os semelhantes, sem reclamar consideração; a dar o melhor de nós, além da execução do próprio dever, sem cobrar taxas de reconhecimento.

Senhor, fortalece em nós a paciência para as dificuldades dos outros, assim como precisamos da paciência dos outros para com as nossas dificuldades.

Ajuda-nos para que a ninguém façamos aquilo que não desejamos para nós.

Auxilia-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será, invariavelmente, aquela de cumprir-Te os desígnios onde e como queiras, hoje, agora e sempre.

                                                                     *   *   *

Por que ainda relutamos tanto em seguir o Modelo seguro de conduta e sentimento que nos foi ofertado há mais de dois milênios?

Por que O chamamos de Mestre e Senhor, compreendendo Sua grandeza e superioridade, mas teimamos em agir de acordo com nossa acanhada compreensão das coisas?

Por que somos tão relutantes... Tão fracos e frágeis?

Não nos parece ser tempo de despertar? De seguir adiante? De utilizar a tal inteligência que, supostamente temos, em pleno século XXI, e fazer opções mais felizes?

Julgamos que conquistamos tanto desde que saímos das cavernas, pois vivemos com mais conforto e facilidades.

Mas será esse nosso único objetivo na Terra? Seriam essas as únicas conquistas que deveríamos alcançar?

É curioso, pois saímos das cavernas, mas em alguns aspectos as cavernas ainda não saíram de nós.

Há escuridão na alma que não encontra o sentido existencial. Há breu no íntimo dos que tornaram a existência uma luta apenas pela sobrevivência material.

Há um escuro enorme no espelho dos que ainda não se conhecem.

Por isso a oração nossa pede auxílio ao mais sábio que já existiu, ao que nos conhece como ninguém mais, ao que esteve entre nós e percebeu nossas mazelas de muito perto.

Senhor, que Tuas lições ecoem pelo mundo íntimo de todos nós, que nos lembrem dos caminhos do amor e nos tragam a coragem de mudar.

Senhor, recita em nosso coração o canto das bem-aventuranças mais uma vez, pois ele nos acalma, nos consola e nos impulsiona.

Senhor, olha-nos com Teus olhos de compreensão, mas também de motivação, fazendo-nos entender que somos frágeis, mas que podemos ser grandes!

Diz-nos mais uma vez que somos a luz do mundo, a luz do mundo de dentro em primeiro lugar, que depois explode para fora, levando a manhã ensolarada a quem ainda vive na madrugada.

Diz-nos, por fim, uma vez mais:

Não vos deixareis órfãos; voltarei para vós.

Guardemos isso em nossa mente e em nosso coração.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Quando brincar é preciso.


Ele crescera naquela comunidade. Sua mãe, professora e administradora de uma escola, exigira muito dele e dos dois irmãos.

Adulto, ele lembrava as horas intermináveis de estudo que lhe haviam sido impostas. Lamentava não ter podido gozar de sadios lazeres.

Mesmo as férias eram programadas para lugares em que, depois de uma caminhada, era preciso escrever sobre o que vira, até os mínimos detalhes.

Ou então, eram visitas a museus, a institutos de ciências, que demandavam posteriores descrições e estudos demorados.

Olhava agora para as crianças que adentravam a escola de sua mãe, detendo-se ali, entre dez e doze horas diárias.

Ele as via entrar pela manhã com suas mochilas às costas e sair, em torno das dez horas da noite.

Aquilo lhe parecia cruel. Por mais que o desejo dos pais, que investiam altas somas para que seus filhos frequentassem aquela escola, fosse o de que seus filhos se ilustrassem, Tomás achava cruel.

Aquelas crianças eram escravizadas, pensava. A disciplina era muito rígida.

Havia horário determinado para tudo. Comer, ir ao banheiro, tudo rigidamente controlado.

Criança que não conseguisse dar conta de todas as tarefas no dia, recebia anotação depreciativa em seu caderno.

Então, um dia, ele tomou o lugar do motorista do ônibus que iria conduzir as crianças para a escola e perguntou se elas gostariam de fazer algo diferente: brincar.

Todas aderiram, de imediato. Ele as levou para a floresta próxima e, durante as horas da manhã, brincaram até cansar.

Foram as brincadeiras de pique-esconde, de pega-pega, de estátua, e tudo que Tomás pôde lembrar que traduzisse infância.

As crianças correram, riram, gargalharam. Sentadas, serviram-se do lanche que levavam nas mochilas.

Próximo ao horário do almoço ele desceu a pequena elevação da floresta para a estrada onde deixara o ônibus.

Pais assustados, acreditando ser um rapto de seus filhos, haviam acionado a polícia.

Mas Tomás proclamou que somente desejava defender alguns direitos das crianças:

Primeiro: As crianças precisam brincar imediatamente.

Precisam brincar agora, enquanto crianças. Não mais tarde.

Segundo: As crianças precisam ser saudáveis imediatamente.

Por isso, horas de estudo devem ser dosadas, com pausas para alimentação, saboreando com vagar a fruta, o suco, o pão.

Finalmente, terceiro: Crianças precisam ser felizes imediatamente.

Tomás recebeu reprimendas duras pelo que fizera e pelo que apregoava, ante a alegria dos pequenos.

                                                                            *   *   *

Cenas de um filme? Nossa realidade?

Bom pensarmos como temos preenchido as horas do dia dos nossos filhos.

Será que, em nome de os preparar para o êxito profissional, carreiras brilhantes, não estamos exigindo demais dos nossos pequenos?

São aulas diárias de idiomas, música, canto, dança...

Horas e horas em estudos e tarefas.

Uma criança que não brinca não é uma criança, escreveu Pablo Neruda.

Nem só de escola devem viver nossas crianças.

Lembremos do quanto é saudável correr, jogar bola, tomar sol, brincar na piscina.

Rir, sorrir, gargalhar, brincar.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Proclamação da República.


Século dezenove. Embora todas as liberdades públicas, que a monarquia desenvolvera em nosso país, ela ainda falava da influência portuguesa.

Por causa disso, a república era considerada, pela comunidade brasileira, como a fórmula de governo compatível com a evolução do país e com a posição cultural do seu povo.

A ideia era genuinamente nativista. Alcançara todas as inteligências. Desde a lei de 13 de maio de 1888, a abolição da escravatura, que ferira os interesses particulares das classes conservadoras, a República se anunciava.

Por toda parte, em ambientes civis ou militares, acendiam-se as tochas do idealismo republicano.

Como tantos outros acontecimentos, a Proclamação da República brasileira se fez sem derramamento de sangue.

Os tempos que antecederam ao grande feito foram de intensa atividade. Todas as grandes cidades do país se entregavam à propaganda aberta das ideias republicanas.

Os espíritos mais eminentes do país preparavam o grande acontecimento.

Então, a 15 de novembro de 1889, com a bandeira do novo regime nas mãos de Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, Lopes Trovão, Serzedelo Correa, Rui Barbosa e toda uma plêiade de inteligências cultas, o marechal Deodoro da Fonseca proclamou, inopinadamente, no Rio de Janeiro, a República dos Estados Unidos do Brasil.

O imperador D. Pedro II recebeu a notícia com amarga surpresa.

Entretanto, o nobre monarca repeliu as sugestões de espíritos apaixonados da coroa para a reação. Preparou rapidamente sua retirada, com a família imperial, para a Europa, em obediência às imposições dos revolucionários.

Consigo levou um travesseiro de terra do Brasil, a fim de que o amor da pátria brasileira lhe santificasse a morte, no seu exílio de saudade e pranto.

Eram as vésperas do seu regresso à Pátria da Imortalidade.

                                                                                    *   *   *

Ao recordarmos, nesta data, o acontecimento, cabe-nos agradecer aos idealistas de então pelo legado.

Transcorridos cento e trinta e três anos da Proclamação da República, quando a nação se veste de alegria para a comemoração, o feriado nacional se apresenta, é de nos indagarmos o que temos feito da nossa República.

Recordamos o entusiasmo de Pero Vaz de Caminha, que chegou com Pedro Álvares Cabral ao Brasil, ao se dirigir ao rei de Portugal:

Uma terra tão pródiga que em nela se plantando, tudo dá.

Será que os ideais de igualdade, de fraternidade, e engrandecimento também?

Com o legado de um território tão grande, uma terra tão rica e a luz do Evangelho do Cristo a brilhar no céu de anil, o que nos falta para sermos a nação mais rica de amor da face da Terra?

Quando passaremos a nos preocupar mais pelo nosso irmão, pela nação e menos pelos nossos próprios interesses?

Bem vale aqui a célebre frase do patriota em dias de batalha: O Brasil espera que cada um cumpra seu dever.

O Brasil cristão aguarda que cumpramos nosso dever de cidadãos nobres. Dever de patriota que não somente respeita os símbolos nacionais da bandeira, do brasão, do Hino Nacional, mas vive com dignidade, todos os dias, honrando a Terra do Cruzeiro.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Dinamismo.


Dinamismo é uma palavra de origem grega, composta pelos vocábulos dynamis, que significa força, poder, capacidade, acrescido do sufixo ismo.

Podemos entender que é a qualidade de se ter energia, atuar com prontidão, diligência.

Ao compulsarmos o legado dos primeiros repórteres da Boa Nova, o que evidenciamos, nas páginas abençoadas, é o dinamismo de Jesus.

Em todos os relatos, jamais encontramos o Mestre em repouso improdutivo. Ele é o símbolo da ação, do trabalho, da dedicação ao próximo.

Eu vim para que tenhais vida, afirmou. E vida em abundância.

Sábio dos sábios, Senhor das estrelas, Ele não foge do contato e das lutas humanas.

Criado no lar de um carpinteiro, cedo aprendeu o ofício. Quem modelara o planeta, problema algum detectou ao tomar da madeira e submetê-la à Sua vontade.

Em Seu messianato, Ele não se contenta em ser procurado para abrandar o sofrimento e socorrer a aflição.

Ele mesmo vai ao encontro das necessidades alheias.

Assim, quando se aproxima do tanque de Bethesda, caminha em direção ao paralítico e lhe proporciona a cura.

Uma cura aguardada há trinta e oito anos. Era o momento da sua libertação.

Era de tal forma dinâmica a Sua ação que, mesmo simplesmente tocado, como O foi pela mulher portadora de um fluxo de sangue, distribui Seu fluido curador.

Contudo, como Ele era o Celeste Pastor, todos Seus atos demonstravam uma lição.

Quando Ele adentra a casa de Pedro, viu que sua sogra estava acamada, com febre.

Febre não é propriamente a doença, mas o sintoma de alguma enfermidade. A descrição é de que Jesus lhe tocou as mãos e a febre a deixou.

De imediato, ela se levantou e foi servi-lO.

Isso nos remete a pensarmos que quando encontramos Jesus e O adotamos para nossas vidas, nosso desejo é sermos curados.

Curados de nossas angústias, dúvidas existenciais, ansiedades e incertezas. É a febre sintoma das tantas mazelas de que somos portadores.

Ao contato com as lições do Mestre Incomparável, absorvendo o influxo das Suas bênçãos, somos curados.

Conhecedores de que somos filhos de um Pai amoroso e bom, cede a febre da ansiedade.

Cientes de que aqui estamos para nosso progresso, arrefece a febre das nossas angústias, porque cada dia é uma oportunidade de luta e crescimento.

Dessa forma, nos encontramos aptos para o trabalho. E o trabalho do cristão é ser dinâmico, levantar-se e servir.

Servir ao semelhante, começando pelo próximo mais próximo.

No exemplo evangélico, a sogra de Pedro, curada da febre, atende, primeiramente, a quem está em sua casa: Jesus e os que O acompanham.

Isso é importante. Por vezes, saímos atendendo o mundo e nos esquecemos dos que na família nos aguardam.

Aguardam o abraço, o carinho, o sustento emocional. Aguardam que nos preocupemos com suas lutas, com suas necessidades.

Aguardam que lhes sejamos o socorro, o apoio, o ouvido atento para suas mil pequenas, mas não menos importantes dificuldades.

Aprendamos a ler nas entrelinhas dos Evangelhos e moldemos nossa vida no dinamismo, isto é, nossa força, nossa energia em ação.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Crianças do hoje, sociedade do amanhã.


É comum crianças reclamarem por terem que se levantar cedo, tomar o café, vestir o uniforme e irem para a escola.

Algumas se queixam das lições a fazer, dos trabalhos exigidos pelos professores porque, após as aulas, gostariam de brincar, assistir TV, ficarem ligadas nos seus games.

No entanto, outras, que estão sem acesso à escola, sonham exatamente com essa rotina.

Sonham com o dia em que terão uma mochila às costas, com cadernos e livros escolares. Alguns, mais ousados, sonham com o acesso ao computador, ao celular, à internet.

Recentemente, as mídias mostraram o caso de uma dessas sonhadoras. Ela foi vista nas ruas a vender doces.

Chamou a atenção por se dirigir aos passantes no idioma espanhol. Duas senhoras resolveram dialogar com ela e descobriram que a menina, natural do Equador, fala fluentemente quatro idiomas.

Além do pátrio, o francês, italiano e russo.

Contou que seus pais trabalham no circo. Por isso, aprendeu, rápida e naturalmente, algumas línguas, durante as viagens pelos demais países.

Simpática, afirmou que adora animais e seu sonho é ser veterinária.

As senhoras resolveram pagar por todos os seus doces, sem levá-los, deixando para que os vendesse a outras pessoas.

Feliz e ingênua, a garota disse que iria juntar aquele dinheiro para comprar uma casa para os seus pais.

Ela sonha em adentrar à Universidade, mas quando uma pequena soma de dinheiro lhe é depositada em mãos, como filha devotada, lembra de presentear os pais.

Como ela, muitas crianças andam pelo mundo.

Algumas, portas adentro dos nossos lares e lhes descobrimos a vontade de aprender, de trabalhar, de produzir, de ser um cidadão contribuindo de forma eficaz com a sociedade.

Outras, são como essa garota: andam pelas ruas ou vivem em casebres, pendurados em morros ou na periferia das grandes cidades.

Merecem nosso olhar cuidadoso.

Cientes de que uma nova geração vai se apresentando, nesta fase de transição planetária, cabe-nos, pais, educadores, pessoas de bem, cuidar desses pequenos.

Necessário lhes proporcionarmos condições para que suas realidades sejam adequadas ao que se espera no futuro.

Desejamos uma sociedade com mais equidade, igualdade, solidariedade.

Desejamos uma nação de homens conscientes e cidadãos operosos.

Contribuamos pois, não relegando ao abandono essas almas que apenas desabrocham na carne.

Alimento para o corpo em desenvolvimento, abrigo das intempéries e dos perigos das ruas, escola para instrução, lar para a educação, moral cristã para o correto crescimento e produção no bem.

Essa geração especial, que está enriquecendo nossas vidas, com novas formas de agir e de pensar, merece nosso cuidado.

Sobretudo, não lhe coloquemos maiores obstáculos ao progresso, à concretização dos seus sonhos de trabalho e felicidade.

O amanhã depende de nós. Essas vidas frágeis necessitam de quem as abrigue, acolha, lhes oferecendo condições de ascensão.

O mundo melhor se constrói com homens melhores. Não somente nós. Também e especialmente esses que nos parecem, por vezes, filhos de ninguém, transitando pelas vielas do mundo.

Redação do Momento Espírita.

Doe Sangue

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