quarta-feira, 29 de março de 2017

O que possuímos

É interessante anotar como desejamos, no mundo, tantas coisas, que nos parecem imprescindíveis.

Quantas vezes, em meio às tarefas que nos cabem, na oficina de trabalho, não desejamos um emprego melhor?

Pois é. Gostaríamos de um melhor ambiente de trabalho, um chefe menos rigoroso, uma carga horária menor, um salário maior.

No entanto, centenas de pessoas anseiam somente por ter um emprego. Qualquer que fosse. Um salário mínimo, ao menos, para saírem da penúria total.

Quantas vezes reclamamos dos pratos servidos no almoço e no jantar? Sempre a mesma coisa. Parece que a cozinheira está desprovida de ideias ou anda com preguiça.

Entretanto, enquanto almejamos pratos mais sofisticados e variados, milhares, no mundo todo, desejam apenas um prato de comida.

Olhamo-nos ao espelho e reclamamos da cor dos olhos. Como seria bom se tivéssemos olhos claros. Ou escuros. Mais esverdeados.

Contudo, inúmeras criaturas aguardam simplesmente a oportunidade de enxergar. Anseiam por uma córnea, uma cirurgia que os libere da cegueira em que se encontram.

Encantamo-nos com as vozes do cantor, do locutor e desejaríamos ter uma voz bonita, cristalina. Ou encorpada, máscula.

Ao nosso lado, porém, caminham muitos que desejariam apenas ter a ventura de falar, em qualquer tom.

Pensamos, olhando nossos pais, que seria muito bom se eles fossem mais esclarecidos, tivessem diplomas universitários.

Tivessem, enfim, uma visão mais ampla do mundo.

Seria tão bom! Mas, em nosso mesmo bairro, existem dezenas de pessoas que almejariam simplesmente ter pais.

Fossem eles iletrados, analfabetos, pobres de entendimento. Mas que estivessem ao seu lado para amá-los.

Reclamamos da rua barulhenta em que se situa a nossa casa, do cachorro do vizinho que late toda noite, perturbando-nos o sono.

Desejaríamos silêncio. Um bairro tranquilo, cães disciplinados, ruas sem trânsito. Muito silêncio para nossa leitura, nosso descanso, nosso lazer.

Nem nos damos conta que centenas de criaturas almejam ardentemente, simplesmente ouvir. O que quer que seja. O ruído do trânsito, o apito das fábricas, a gritaria da criançada.

Qualquer coisa, contanto que pudessem ouvir.

Olhamos, com olhos de desejo, as vitrinas abarrotadas de sapatos lindos. Modelos recém chegados. Lançamentos.

Gostaríamos tanto que nosso orçamento nos permitisse comprar um novo par. Afinal, os nossos já andam um pouco gastos e fora de moda.

Enquanto olhamos para nossos pés, desejando novos sapatos, muitos contemplam os próprios membros inferiores, desejando apenas ter pés.

Pensamos num carro novo, mais confortável. Um carro com porta-malas maior, que caiba mais coisas.

Enquanto isso, bem próximo de nós, muitos apenas sonham com a possibilidade de se locomover de um lado a outro com as próprias pernas.

É justo sonhar. É bom desejar melhorar o padrão de vida. Isto faz parte do progresso do ser humano.

Entretanto, que esses anseios não se constituam em nossa infelicidade. Não esqueçamos de valorizar o que já temos.

Valorizemos a possibilidade de andar, ouvir, enxergar, de nos locomover de um a outro lado, por nossa própria conta.

Agradeçamos o emprego que nos permite o atendimento das nossas necessidades.

Sejamos gratos pela nossa família, pequena ou grande. Ilustrada ou não.

Agradeçamos, enfim, a Deus, pelo dom da vida. Por estar na Terra, abençoada escola.

Por respirar, por poder abraçar, por ter a quem abraçar.

Agradeçamos simplesmente, por viver este dia.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Quero ser uma TV!

Na sala de aula, a professora pediu aos alunos que fizessem uma redação, e que nela expressassem, de alguma forma, o que gostariam que Deus fizesse por eles.

Já em casa, quando corrigia os textos dos alunos, deparou-se com uma que a deixou deveras emocionada.

Um choro sentido irrompeu sem que ela pudesse controlar.

Deixou tudo o que estava fazendo, sentou-se numa poltrona, ainda com a redação nas mãos, e ficou ali, pensativa, entre lágrimas.

O marido percebeu que alguma coisa estava errada, e entrou no escritório onde ela estava:

O que aconteceu, querida?

Ela, sem conseguir falar direito, passou a ele a redação e disse:

Lê... A redação é de um aluno meu.

O marido segurou a folha de papel e começou a ler:

Senhor, nesta noite, peço-te algo especial: transforma-me numa televisão.

Quero ocupar o espaço dela. Viver como a televisão da minha casa vive. Ter um espaço especial para mim e reunir a família ao meu redor.

Quero ser levado a sério quando falar. Ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções e perguntas.

Senhor, quero receber a mesma atenção que ela quando não funciona, quando está com algum problema.

Ter a companhia de meu pai quando ele chega em casa, mesmo que esteja cansado.

Que minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, ao invés de me ignorar.

E ainda, que meus irmãos briguem para poderem estar comigo.

Quero sentir que minha família deixa tudo de lado, de vez em quando, para estar comigo.

Por fim, que eu possa divertir a todos.

Senhor, não te peço muito. Só te peço que me deixes viver intensamente como qualquer televisão vive!

Quando o marido terminou a leitura, estava incomodado.

Meu Deus, coitado desse menino! Que pais ele tem! – Disse ele, virando-se para a esposa.

A professora olhou bem nos olhos do marido e depois baixou-os, dizendo num sussurro:

Esta redação é do nosso filho...

*   *   *

Há tantas coisas que o mundo moderno nos oferece! Tantas opções para tudo, que ainda parecemos deslumbrados com esta realidade, como crianças ao adentrar numa imensa loja de brinquedos.

São tantas informações disponíveis, tantas distrações, tanto entretenimento ao nosso dispor...

Mas será que não estamos deixando de lado o mais importante? Será que sabemos o que é mais importante, o que procurar na vida?

Mediante esta constatação, será que a família não está sendo deixada em segundo plano?

Será que os relacionamentos não estão sendo vividos numa certa superficialidade confortável?

É tempo de pensar em tudo isso.

Não troquemos a brincadeira com um filho por um jornal televisivo. Não troquemos momentos de conversa amiga com os familiares por um capítulo de novela.

Aquele reality show não é mais importante do que o telefonema ao amigo, perguntando se está bem.

A vida em família é o grande alicerce da felicidade de todos nós. O resto é acessório. O resto... é resto.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Vivenciando a transformação

Verdade é que o mundo terreno passa por ampla transformação. Contudo, não haverá total destruição.

Há décadas, a Humanidade passa por grandes avanços nas ideias e nos comportamentos.

São as leis divinas, implantando uma forma diferenciada de transformação.

Essa profunda reforma, embora lenta, se revela por sinais inequívocos.

Mentes iluminadas estão chegando à Terra, através do processo do renascimento, com pensamentos e conceitos revolucionários.

Basta observarmos nossas crianças e jovens.

Basta verifiquemos as leis humanas que defendem pessoas, que ainda ontem eram discriminadas, sofrendo os preconceitos de sexo, raça, crença...

O enfraquecimento de conceitos ultrapassados permite que os homens se vejam com mais fraternidade.

Estão caindo as barreiras que impediam essa visão.

A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social.

O progresso intelectual e tecnológico trouxe avanço para a Humanidade, mas somente o progresso moral pode assegurar aos homens a felicidade na Terra.

Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutrir-se de ideias mais amplas e compreender o que antes não compreendia.

A chegada de novas gerações clareia a sombra da indiferença que teimava em se impor.

Elas marcham para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento que a Humanidade já alcançou.

Grande ainda é o número dos retardatários, dos que insistem na maldade, mas o que poderão fazer contra a onda crescente que se apresenta?

Pode-se discernir essa onda presente na mente e no trabalho da nova geração, que encara o desafio de lutar pela moralidade, em muitos setores.

Os embates são grandes, mas a lei suprema há de fortalecer os destemidos que se dispõem ao trabalho de reforma.

Com o passar do tempo, as mentes que se cristalizaram na visão preconceituosa e ultrapassada, partirão deste planeta porque ninguém vive, para sempre, sobre a Terra.

Deixarão de causar obstáculos ao progresso.

Por isso, não é necessário um cataclismo que venha aniquilar a Humanidade terrena.

As leis divinas estabelecem que, através da reencarnação, as almas que aqui habitam se renovem.

Almas que trazem em si as conquistas inerentes ao progresso moral, alavancarão o avanço que se espera.

No momento, as criaturas ainda se encontram misturadas, como o joio e o trigo, gerando confusão e desconforto.

Entretanto, é possível perceber-se o distanciamento na categoria de pensamentos e ações, entre uma e outra geração.

De um lado, inclinações instintivas das paixões, revoltas, exaltação do orgulho, egoísmo, inveja, ciúme, crime e apego material.

De outro, a busca em implantar o reinado da justiça, da fraternidade e do amor.

Agradeçamos ao Divino Senhor que nunca abandona os Seus filhos.

Saibamos optar pelo crescimento moral e intelectual, para fazermos jus à nova realidade que nos espera.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Quantos anos tenho?


Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.

Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança.

Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama intensa, ansiosa por consumir-se no fogo de uma paixão desejada. E outras vezes é uma ressaca de paz, como o entardecer em uma praia.

Quantos anos tenho? Não preciso de um número para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas…Valem muito mais que isso

O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!

O que importa é a idade que sinto.

Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos.

Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.

Quantos anos tenho? Isso a quem importa?

Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto.

José Saramago

quinta-feira, 2 de março de 2017

Vivendo em plenitude


No dia que morre, enquanto o sol puxa a sua colcha de nuvens para se cobrir, aconchegando-se no poente, permita-se um tempo para refletir.

O que você fez hoje o deixou feliz?

Você pode ter acrescentado uma soma considerável ao seu saldo bancário, pode ter celebrado contratos importantes, que lhe garantam retorno financeiro por largo tempo.

Você pode ter recebido honrarias, prêmios por sua capacidade intelectual. Pode ter sido laureado pelo projeto bem sucedido.

Você pode ter dado muitos autógrafos no livro que acabou de lançar, ter recebido aplausos vibrantes e demorados pelo show musical em que se esmerou.

Sim, tudo isso são ganhos. E você deve estar feliz com o balanço que lhe dá conta de que a coluna positiva supera a negativa.

Mas, você está verdadeiramente feliz? Dentro de você, sente que utilizou o melhor possível esse dia que adormece, encobrindo-se nas dobras da noite?

Pense um pouco: além dos abraços dos que são pagos para servi-lo, acompanhá-lo; dos que desejam posar para fotos ao seu lado, a fim de se verem projetados na escala social; além dos que o buscam porque você goza de sucesso; alguém que o ama verdadeiramente o abraçou?

Isto é, depois de todo o trabalho, do gozo das glórias do mundo, dos aplausos, quando as luzes do palco se apagam, deixando ar de solidão, o que tem você de verdadeiramente seu?

Você tem um lar para voltar? Alguém que o ame? Um filho que o espera para pular em seu pescoço e gritar: Papai!?

Você tem um esposo que a ama e espera que as horas seguintes possam ser somente de vocês dois?

Você tem pais idosos que lhe aguardam, ansiosos, a chegada em casa? Você tem um animal doméstico para afagar?

Um cão que, desde a esquina, identifica o ruído do seu carro e o aguarda no portão?

Que pula, late, abana o rabo, demonstrando a sua alegria por ter você como seu dono?

E, mais importante do que isso: você usufrui integralmente cada uma dessas oportunidades?

Ou chega em casa, se joga no sofá, não quer falar com ninguém porque está cansado?

Não faça isso!

Aproveite a sua vida em totalidade. Ame, demonstre carinho, beije, diga como foi difícil ficar tantas horas longe do aconchego familiar.

Pergunte pelas crianças, sorria, jogue-se no chão e brinque com elas.

Esforce-se por entender o linguajar de seus filhos adolescentes, agradeça a mensagem que lhe mandaram para o celular, mesmo que você não tenha entendido tudo.

Dedique algum tempo a eles, pergunte daquelas abreviaturas que você não consegue identificar o que sejam, quando recebe os torpedos.

Saia com sua esposa para dançar. Ou coloque um CD com músicas românticas e dance, na sala de casa, de rosto colado.

Olhe para ela. Os anos passaram, vieram os filhos, mas ela continua bonita. Diga isso a ela, para que ela saiba.

E retribua o elogio.

E, se você não tem pais, cônjuge, filhos, irmãos, se vive só, ainda assim curta o que tem.

Ouça música, leia um bom livro, assista um filme. Telefone para um amigo. Escreva a outro solitário.

Viva!

E, quando o sono for se aproximando, convidando-o ao repouso físico, não se entregue a ele, antes de orar a Deus, em gratidão pelas horas vividas.

Agradeça a sua vida. A maravilhosa vida que você tem.

Agradeça por sua capacidade de amar. E pelo amor que tem.

Doe Sangue

Doe Sangue