terça-feira, 24 de setembro de 2019

A lição da árvore.

Um homem bom, que amava a natureza, plantou a mudinha em um dia pleno de sol. Ela brotou exuberante e cheia de vida, feliz, espreguiçando os braços, alongando-os dia a dia.
De início, quase ninguém reparou naquele projeto de árvore que crescia e se cobria de folhas, agitando-as ao vento brando que as tocava.
Finalmente, ela se tornou uma árvore robusta, os ramos viraram galhos fortes e ela adquiriu a maioridade vegetal.
Nos dias de sol forte, as pessoas se acolhiam debaixo de sua fronde, enquanto aguardavam a condução que as levariam aos seus destinos. As crianças aproveitavam para se pendurar em seus braços, balançando-se de cá para lá.
E todos foram se acostumando com aquela presença amiga e silenciosa que dava sombra, que suportava as pessoas que se encostavam em seu tronco, que aguentava as crianças subindo e descendo, e se pendurando em seus galhos.
Contudo, numa noite de tristeza, um homem descontente com as folhas que caíam no outono e as flores da primavera que atapetavam o chão, resolveu cortar a árvore.
Ele não queria o trabalho de recolher as folhas mortas, nem de varrer as flores que coloriam a relva e formavam interessantes arabescos.
Quando o dia despertou, o que se via eram os galhos cortados, amontoados na calçada e um pedaço de tronco erguendo-se nu, quase envergonhado.
As crianças lamentaram, os adultos questionaram quem teria executado tal maldade.
E o tronco lá ficou, liso, em pé, sem proteção alguma, aguentando o frio das noites invernosas e o calor das tardes. Também a chuva, o vento.
E todos pensaram que a árvore morreria de tristeza e de dor por tanta crueldade. Ela dera tudo de si, doara-se sem reservas.
Que recebera em troca senão uma sentença de morte?
Entretanto, os dias rolaram, emendando na semana que se enroscou no mês e os meses na estação seguinte.
Então, a árvore corajosa resolveu brotar novamente. E pequenas folhas verdes apareceram no topo do tronco e nas laterais.
Folhas tenras, anunciando o retorno à vida. A árvore esqueceu os maus tratos, a tentativa de morte e num gesto de autêntico perdão, se dispôs a reviver.
                                                             *   *   *
O grande Olavo Bilac, ao se referir às velhas árvores, escreveu, um dia:
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem.
Parafraseando o poeta, dizemos que bom seria que aprendêssemos com as árvores a lição do perdão, ofertando a quem nos fere a outra face, a da doação.
Bom seria que, decepados pela calúnia e pela maldade, nos erguêssemos, ofertando flores e frutos em abundância.
Pensemos nisso: perdão é gesto de quem não agasalha mágoas, nem alimenta rancor. É gesto de quem vive liberto porque não se permite a prisão da dor da revolta pela injustiça.
Nem se deixa infelicitar pela infelicidade e inveja dos maus. Vive plenamente, produz todo o bem que possa e releva os atos indignos, próprios de quem vive prisioneiro de sua própria pequenez.
Sejamos pois, como a árvore amiga, retribuindo o mal com o bem e nos importando muito mais com quem nos ama do que com quem nos despreza.
Valorizemos o amor. Valorizemos o bem.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Sempre é tempo de ajudar.

É bastante comum o comportamento da maioria das pessoas que viajam de avião.

Mal adentram a aeronave, procuram o seu assento, de forma rápida cumprimentam os ocupantes vizinhos e logo colocam os fones de ouvido, tomam de um jornal, revista ou livro e passam o resto da viagem ignorando a presença de todos.

A última coisa que desejam é dividir o espaço com alguém tagarela que tente invadir a sua privacidade.

Esse comportamento pode, no entanto, nos privar da oportunidade de manter contatos profissionais, de fazer novos amigos ou mesmo perder algo muito valioso como uma vida humana.

Allen Van Meter, um homem simpático e alegre, com sua facilidade de fazer amigos, não era do tipo de ficar mudo ao lado de alguém.

Foi assim que, ao sentar-se, ele olhou para quem ocupava o assento ao seu lado, naquele dia.

De imediato, perguntou: Sem querer incomodar, mas que papel é esse em suas mãos?

Janet não se fez de rogada. Explicou que aquele era o diagrama de um rim. Disse que sua irmã fizera um transplante, mas seu corpo rejeitara o órgão, exigindo que ela passasse a tomar diversos remédios.

O problema é que esses medicamentos estavam danificando ambos os rins.

Ela precisava com urgência de substituição do órgão ou poderia morrer a qualquer momento.

Allen ouviu com tristeza. Ele viajava, naquele dia, por problemas familiares. Seu sobrinho, de apenas vinte e cinco anos, sofrera dano cerebral irreversível.

A família desejava doar os órgãos. Ele tomou a decisão. Pediu para utilizar o telefone do avião, contatou o hospital onde se encontrava o corpo do seu sobrinho para a remoção dos aparelhos e retirada dos órgãos.

Desejava saber da possibilidade de uma doação direta, ou seja, a família indicar a pessoa para receber o órgão.

Foram muitos telefonemas, para um e outro hospital. Os passageiros do avião ficaram sabendo, aos poucos, o que estava acontecendo e passaram a prestar atenção ao que ocorria.

Não houve quem não vibrasse por um desfecho exitoso.

As equipes dos dois hospitais começaram a se falar, para descobrir o tipo de sangue de ambos, doador e receptora. Depois, foi providenciado o transporte da irmã de Janet para o outro hospital.

Naquela mesma noite, ela recebeu o transplante. Durante a cirurgia, os médicos descobriram que a artéria principal que alimentava seu rim estava quase totalmente bloqueada.

Caso não tivesse recebido com urgência o novo órgão, poderia ter morrido.

                                                                *   *   *

Quem poderia imaginar que uma simples indagação pudesse levar a um desfecho tão excelente?

Por vezes, o que nos basta é olharmos para o lado para descobrir o quanto bem se pode proporcionar.

E, reflexionarmos a respeito dos estranhos caminhos da Providência Divina.

Quiçá, algum dia, descubramos as tantas fórmulas de atendimento de Deus aos Seus filhos.

Um jovem partiu. Outra pessoa, graças ao desprendimento de uma família, teve a sua vida prolongada.

Coisas de Deus. Coisas do amor.

 Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Sonho de consumo.

Um cantor popular estava em turnê e, num bate-papo com o público, ouviu de uma fã a declaração: Você é o meu sonho de consumo.

Isso nos faz refletir sobre o valor que damos a pessoas e objetos. Coisas são consumidas, não pessoas. Mas, aparentemente, o consumo também começa a imperar entre as relações interpessoais.

O consumo advém da necessidade de satisfazer um desejo. Empresas especializadas estudam formas de plantar na população o desejo por determinados produtos. Criam estratégias de marketing para convencê-las de que devem adquirir roupas, automóveis, celulares e equipamentos.

Também as convencem de que devem ir a determinados lugares, fumar e beber determinadas marcas quando, na verdade, elas não precisam de nada disso.

Quem precisa delas são os fabricantes, que produzem e obtêm lucro com a venda de seus produtos.

Alguns são realmente necessários, considerados de primeira necessidade. Mas há dos que são absolutamente supérfluos, que somente são vendidos por conta de uma ilusão cuidadosamente criada e de uma forte campanha de comercialização.

Uma vez adquirido o objeto, o público é convencido de que precisa de algo melhor, mais novo, mais caro. E assim o ciclo de consumismo se mantém.

Com pessoas vem ocorrendo algo semelhante.

Começa-se com a aparência. É preciso ter uma configuração corporal de acordo com padrões específicos para ser aceito e desejável: cabelos de determinada cor, textura e comprimento, cor de olhos e de pele dentro de parâmetros considerados belos, corpo com determinadas medidas.

Mas quem cria essas configurações? Quem decide o que é belo?

Indivíduos e corporações lucram alimentando a infelicidade e a insatisfação das pessoas consigo mesmas. Oferecem a elas soluções para resolver problemas que antes não eram problemas. Passaram a ser depois de cuidadosas campanhas que trocam o ser pelo ter e o aparentar.

Use nosso produto - dizem elas - mude sua aparência e seja feliz.

Mas não é isso que traz a felicidade. Felicidade é algo que resulta da realização da pessoa como ser humano, que faz a vida valer a pena.

Para os que vivem em zonas de guerra, felicidade é conquistar a paz.

Para os que vivem em hospitais, aguardando tratamento e cura, felicidade é ter saúde.

Para os que perderam a esperança, felicidade é receber ajuda e poder confiar novamente na bondade e na justiça humanas.

Para os que creem na justiça das aflições, felicidade é constatar que o sofrimento diminui quando se compreende suas causas.

Para os que acreditam na pluralidade das existências e seguem as Leis Divinas, felicidade é perdoar e ser perdoado, viver em paz num mundo de amor, sem orgulho e egoísmo.

Para os materialistas, felicidade é ter dinheiro e poder. Sonham com conquistas pautadas em ilusões que, uma vez atingidas, deixam um vazio que precisa ser preenchido com mais aquisições.

Quando compreendermos que a felicidade está associada ao amor e à bondade, e não à posse de objetos ou pessoas, não teremos mais sonhos de consumo, mas sim sonhos de vida.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

A verdade.

Muito se fala sobre a verdade. Dizem que a verdade sempre aparece, mais cedo ou mais tarde. Nada pode deter a sua marcha, no tempo.

No entanto, alguns de nós, por vezes ficamos a pensar que ela deveria ser mais ágil. Afinal, conhecemos na História da Humanidade, quantas vezes ela foi ofuscada por interesses de poderosos de toda sorte.

Conta-se que quando foi coroado rei da Pérsia, Dario mandou dar uma grande festa para todos os seus súditos, espalhados em cento e vinte e sete províncias.

Terminada a festa, adormeceu, mas foi despertado pelas vozes alteradas de três rapazes que discutiam acerca do que seria a coisa mais forte do mundo.

Em vez de admoestá-los, ficou a escutá-los.

Decidiram que cada um escreveria uma frase dizendo o que era a coisa mais forte e submeteriam ao rei o julgamento.

E assim foi feito. As frases foram entregues ao soberano que, oportunamente, realizou uma convocação de nobres e conselheiros, na sala dos julgamentos.

Foi lida a primeira frase: O vinho é o mais forte.

Aquele que a escrevera, considerou que o vinho tem muita força. Tanta que pode transformar em tolos os homens mais grandiosos.

O rei poderoso e a criança ignorante se igualam sob sua força. Coloca nuvens na memória e torna discussões sem valor porque tudo cai no esquecimento.

A segunda frase dizia: O rei é o mais forte.

A justificativa do autor foi de que o rei tudo manda e é obedecido. Envia soldados para a guerra, condena pessoas à morte ou lhes concede o perdão.

Todos os súditos lhe devem obediência e ele faz o que lhe agrada. É apenas um homem, mas por ele os soldados cruzam montanhas, derrubam muralhas, atacam torres e depois de conquistado o país, lhe trazem o espólio.

A terceira frase afirmava: A verdade é mais forte que todas as coisas.

A defesa da tese foi ardorosa. Disse o jovem:

O rei pode ser perverso, o vinho é perverso. Os homens podem ser maus. Todos eles perecerão. Mas a verdade é eterna.

É sempre forte. Nunca morre. Tampouco é derrotada. Faz o que é justo. Não pode ser corrompida.

Não necessita do respeito das pessoas para existir. É grandiosa e soberana sobre todas as coisas.

E Dario julgou que o terceiro jovem era o mais sábio.

O jovem se chamava Zorobabel. Era um judeu e foi líder do seu povo, na época de seu retorno a Jerusalém do exílio na Babilônia.

Foi um dos reconstrutores do templo em Jerusalém.

                                                                  *   *   *

A verdade sempre predomina. A verdade cresce à medida que o ser se desenvolve.

Ela se faz profunda, é sempre atual e enfrenta a razão em todas as épocas com os equipamentos da lógica e da realidade.

A verdade é pão que nutre, medicamento que cura, guia que conduz com equilíbrio.

Jamais fica desconhecida, por maiores sejam os obstáculos que se lhe anteponham.

Escapa a qualquer controle, por ser soberana, e, mesmo quando aparentemente morta, renasce.

Ninguém tem o direito de ocultar a verdade, qual se fosse uma luz que devesse ficar escondida. Onde se encontre, irradia claridade e calor.

Façamos a nossa parte.

Redação do Momento Espírita.

Doe Sangue

Doe Sangue