terça-feira, 29 de outubro de 2019

Pétalas arrancadas.

A menina pequena começou a perceber o jardim de sua casa.

Encantou-se com uma flor de cor vermelha – bougainville.

Ainda no colo, pediu ao pai para chegar mais perto. Desejava ver com as mãos e sentir seu perfume.

Ao puxar um pequeno galho colorido, a maioria das pétalas se desprendeu acidentalmente. Estavam agora na palma da mão pequenina.

Havia deixado o ramo da planta escarlate quase sem vestes. A criança se assustou. O galho retornou velozmente para trás.

Olhou para o pai como que dizendo: Não pretendia machucá-la...

Logo após fez um gesto inusitado. Esticou o bracinho, segurando na mão as pétalas soltas que ainda guardava e buscou novamente as flores que haviam permanecido no galho.

Ela queria devolver o que havia retirado da flor, agora semidesnuda.

O pai ficou sem ação. Seu primeiro impulso foi dizer que não era possível, no entanto, aceitou o desejo da filha e deixou que ela ajeitasse delicadamente as partes arrancadas junto às que ainda se mantinham no arbusto.

Enfim, a menina deu a situação por resolvida. O pai, porém, não. Ficou com as pétalas arrancadas no pensamento.

                                                                            *   *   *

É possível devolver uma pétala para uma flor?

Os botânicos certamente dirão e provarão que não. Uma vez retiradas, não voltam mais. Não há como colar, costurar ou provocar qualquer espécie de regeneração.

Assim como o tempo; assim como as palavras que proferimos; assim com os atos. Não há como desfazer o que foi feito, o que foi dito, o que passou.

Ferimos alguém profundamente e pedimos desculpas. Será que somos nós tentando devolver pétalas arrancadas?

Assim, voltemos à questão original: é possível devolver uma pétala para uma flor?

Tudo nos leva a aceitar o não como a resposta mais razoável, ou a única plausível. Resposta triste.

Porém, se a ingenuidade e pureza infantis acreditaram ser possível, quem sabe possamos acreditar tornar possível, mas de uma forma diferente.

E se decidíssemos cuidar daquela árvore de uma maneira especial, olhando-a todos os dias, assim como o Pequeno Príncipe um dia cuidou de sua rosa?

Estarmos atentos ao que ela precise e não deixar que lhe falte alguma coisa. Vamos nos ocupar do solo, mantendo-o fértil.

Conversarmos sempre, dizer o quanto está bela, acompanhar seu crescimento e lá estarmos, emocionados, quando finalmente, novas pétalas nascerem no lugar das faltantes.

Quem sabe será nossa forma de devolver...

E se não pudermos restituir exatamente aquela flor por alguma razão, poderíamos cumprir nossa missão da mesma forma, com outras. Entendendo que nossa dívida é com a natureza como um todo.

                                                                            *   *   *

O homem sofre sempre a consequência de suas faltas. Não há uma só infração à Lei de Deus que fique sem a correspondente punição.

Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas, não basta o simples pesar do mal causado.

É necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito.

A sua felicidade ou a sua desgraça dependem da vontade que tenha de praticar o bem.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Preservando nosso lar.

Há algumas décadas o desmatamento se tornou um grave problema para nosso planeta.

Agradável é vermos notícias de que em vários lugares, pessoas se preocupam com a nossa casa planetária e criam fórmulas para o reflorestamento.

A Tailândia encontrou uma maneira peculiar de recuperar as áreas desmatadas.

O país asiático inovou, utilizando aviões militares para bombardear suas florestas. Um bombardeio nada destrutivo.

Os aviões levam sementes de árvores locais, junto com uma mistura de argila, terra e composto, o que facilita a sua germinação.

Essas sementes estão totalmente preparadas para se tornarem árvores gigantes.

O projeto, iniciado em 2016, deverá se estender por cinco anos, segundo o governo tailandês. Uma ação efetiva, perseverante.

O autor da ideia foi o japonês Masanubo Fukuoka. A técnica foi aperfeiçoada, a partir de seu plano inicial, permitindo que devolvamos à natureza o que tiramos dela.

Com esse método, a estimativa é de que quase um milhão de árvores possam ser plantadas diariamente.

Uma estratégia. Um plano que semeia esperança para um planeta espoliado, uma terra exaurida pela excessiva exploração pelo seu habitante mais ilustre: o homem.

O homem que está se dando conta de que se não zelar pela mãe Terra, logo mais não terá mais um lar, um abrigo, um mundo para viver.

Para alguns de nós, pode ser que tudo pareça utopia e que, afinal, a Terra não caminha para nenhum desastre ecológico.

Sobretudo, aqueles que vivemos em locais em que água, luz, comida em abundância se fazem presentes.

No entanto, todos os dias, as tempestades que assolam determinadas comunidades, o clima que parece ter enlouquecido nos dizem que criamos muitos problemas para nosso lar e nos cabe, com urgência, tentar ajustar tudo que seja possível.

Os alertas estão sendo dados, de forma constante, pela mãe Terra. Frio intenso em locais jamais antes invadidos por temperaturas tão baixas.

Calor excessivo em outras localidades...

Preservar e resguardar o meio ambiente é fundamental para manter a saúde do planeta, assegurando a nossa própria.

Todo esforço deve ser empreendido em proteger os recursos naturais, pois o solo é a fonte de onde provêm os recursos necessários à nossa vida.

Todo exagero que lesa a natureza é fruto do egoísmo e ambição desmedidos.

Está na hora de ouvirmos as exortações que nos assinalam que devemos, cada qual, nos contentar com o necessário, sem desejar demais, sem usurpar, sem forçar, sem agredir a Terra.

Para viver precisamos do ar, da água, do alimento generoso. Não permitamos que nossa ganância polua a atmosfera, destrua as matas e espolie a terra.

E nossa parte pode ser feita, onde estivermos, na cidade ou no campo.

Afinal, quem não pode plantar uma árvore ou auxiliar a proteger as existentes?

Quem não pode participar do descarte consciente, colaborando com a coleta seletiva evitando que o problema do lixo se multiplique?

Quem não pode começar agora, com ações simples a colaborar, evitando desperdício de água, de energia elétrica?

E, pensando na educação dos nossos filhos, não somente lhes falar mas exemplificar, a cada dia, a toda hora.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Saudações a uma professora.

Foi pelos meados do século XX que o presidente do Tribunal de Sessões Especiais da cidade de Nova York foi expor as suas ideias sobre o tratamento aos criminosos primários.

Era uma conferência perante magistrados do Estado do Missouri e, em certo momento, ele afirmou que sua atitude, em relação à delinquência entre os jovens se originara de um tratamento inteligente e afetuoso que lhe dispensara uma de suas mestras.

Ele não lhe mencionou o nome. Mas, terminada a reunião o juiz presidente da Corte Suprema do Missouri se aproximou e lhe perguntou se ele se referira à Srta. Varner.

E continuou: Você verificará que alguns dos juízes aqui reunidos foram profundamente influenciados por ela.

Nada menos de quatro juízes vieram manifestar-se a respeito.

Um dos juristas mais respeitados da América, o juiz Laurance Hyde, lhe disse:

Ela foi uma professora maravilhosa.

Ensinava seus alunos a não se contentarem em aprender apenas o que estivesse no livro. Mas interrogassem o autor, que contestassem suas afirmativas, que procurassem conhecer melhor o assunto.

Assim, se descobria o prazer de aprender.

E ele que acreditara que somente para si ela fora a conselheira particular, que o guiara através do curso secundário. Depois, através do curso superior, até se formar em Direito.

Dava-se conta, agora, que essa mulher admirável como professora, vice-diretora e diretora, exercera a mesma influência sobre centenas de alunos que passaram por aquela escola.

E cada um deles a considerava a sua conselheira particular.

Generais, motoristas de táxi, fazendeiros, magistrados, cientistas, almirantes, senadores todos foram beneficiários do afeto e da sua dedicação.

Ela exerceu a sua influência sobre centenas de destinos.

Quando, na escola, havia um menino que todos os demais professores julgavam um indisciplinado incorrigível, ela afirmava: Não existe semelhante coisa.

E se encarregava do caso. Tratava o adolescente com tal amor e compreensão que a transformação se operava.

O próprio chefe de polícia, mais de uma vez, levou à sua presença mocinhos acusados de prática de ilegalidades.

Eram atos sem grandes consequências, mas, ainda assim, contrários à lei.

Ela conversava com eles, e eles nunca mais se metiam em encrencas.

Calla Edington Varner, uma professora que fez a diferença. Como faz falta, nos dias em que vivemos, professores dessa qualidade.

Professores que tenham em mente seus deveres cívicos e lembrem que numa democracia todos importam.

E que cada um pode fazer a grande diferença, operando mudanças pequenas ou expressivas onde se encontre.

Com certeza, professores assim existem. E a esses, a nossa grande e especial homenagem.

Sobretudo os votos de que não esmoreçam, mesmo ante a indiferença de muitos, ou até observações desestimuladoras de que não vale o investimento.

Também nosso apelo aos que temos filhos na escola para que nos demos conta do esforço de heróis assim especiais, que se dedicam muito além do dever.

Heróis silenciosos nas salas de aula, horas e horas. Heróis dedicados em seus lares, preparando aulas, estudando, pesquisando.

Heróis que ensinam, que iluminam mentes, que alimentam corações com sua presença afetuosa e esclarecedora.
Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Comece por você.

Para quem tem olhos de ver, em toda parte ensinamentos se fazem presentes.

No túmulo de um bispo anglicano, que está na cripta da Abadia de Westminster, na praça do Parlamento, em Londres, pode-se ler o seguinte:

Quando eu era jovem, livre, e minha imaginação não tinha limites, eu sonhava em mudar o mundo.

À medida que me tornei mais velho e mais sábio, descobri que o mundo não ia mudar. Reduzi, então, meu campo de visão e resolvi mudar apenas meu país.

Mas acabei achando que isso, também, eu era incapaz de mudar.

Envelhecendo, numa última e desesperada tentativa, decidi mudar apenas minha família, os mais próximos, mas, ai de mim, eles não estavam mais ali.

Agora, no meu leito de morte, de repente percebo: se eu tivesse primeiro me empenhado apenas em mudar a mim mesmo, pelo meu exemplo eu teria mudado minha família.

Com a inspiração da família e encorajado por ela, teria sido capaz de melhorar meu país e, quem sabe, poderia até ter mudado o mundo.

                                                                  *   *   *

Quase sempre, pensamos e agimos exatamente assim. É comum lermos um trecho do Evangelho e logo pensarmos como aquelas frases seriam muito importantes para alguém da nossa família.

Quando ouvimos uma palestra edificante, que concita ao bem, logo nos vem à mente o pensamento de que seria muito bom se determinada pessoa estivesse ali para ouvir.

Isso faria muito bem para ela! É o que dizemos para nós mesmos.

Como esta informação a poderia modificar, mudar sua forma de agir!

Quando estamos vinculados a uma determinada religião, o pensamento não é diferente.

Ficamos a desejar que nossos parentes, nossos amigos, colegas professem a mesma crença, comunguem dos mesmos ideais.

Por vezes, chegamos a nos tornar um pouco inconvenientes, ou talvez até em demasia, mandando recados, frases escolhidas para os amigos.

Tudo nesse intuito de que eles as leiam, as absorvam e coloquem em prática.

São frases que se referem aos bons costumes, à ética, à moral e quem as recebe, com certeza, pensará também: Seria muito bom que o remetente colocasse em prática essas fórmulas. Ele precisa disso.

Por isso é que o mundo ainda não é esse local especial que tanto ansiamos: um oásis de compreensão, com aragem de paz e fontes cantantes de fraternidade.

Porque cada um de nós deseja, pensa, anseia por mudar o outro. Por fazer que o outro se revista de compreensão, de polidez.

Contudo, o Modelo e Guia da Humanidade estabeleceu que cada um deve dar conta da sua própria administração.

Administração da sua vida, dos seus deveres, da sua missão.

O mundo é a somatória de todos nós, das ações de todos os homens.

Cabe-nos pois a inadiável decisão de nos propormos à própria melhoria.

E hoje, hoje é o melhor dia para isso. Nem amanhã, nem depois.

Hoje. Comecemos a pensar em que poderemos nos melhorar.

Quem sabe, um gesto de gentileza? Que tal um bom dia? Um obrigado, um sorriso?

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

O preço de uma vida.

Quando, em nosso país, tantas vozes se erguem na defesa da eliminação da vida, uma pausa para reflexão se faz devida.

Quanto vale uma vida? Será que, por não ser ainda alguém que contribui para a sociedade, por não ter voz suficientemente alta para se defender, o embrião ou o feto merece a morte?

O que pretendemos com tal posicionamento?

Recordamos que na China, entre 1979 e 1980, entrou em vigor a lei de um único filho.

Isso motivou o crescimento do número de crianças abandonadas ao nascer. Sobretudo meninas. Também o infanticídio e o consequente envelhecimento da nação.

Em outubro de 2015, passou a ser permitido o segundo filho.

A jornalista Xinran, hoje radicada em Londres, conta uma de suas experiências dolorosas, do ano de 1990.

Era uma manhã de inverno. Ao passar por um banheiro público, uma multidão ruidosa estava rodeando uma sacola de roupas, entregue ao vento da estrada.

A jornalista se aproximou e recolheu a trouxinha: era uma menina de apenas alguns dias.

Estava azul de tão gelada e o pequeno nariz tremia.

Ninguém ajudou Xinran. Ninguém moveu um dedo para salvar a criança.

Ela a levou ao hospital, pagou pelos primeiros socorros mas ninguém ali estava com pressa de salvar aquela recém-nascida.

Somente quando Xinran apanhou seu gravador e começou a relatar o que via, um médico parou e levou o bebê para a emergência.

Uma enfermeira disse: Perdoe-nos a frieza. Há bebês abandonados demais. Ajudamos mais de dez, mas depois ninguém queria se responsabilizar pelo futuro deles.

A vida se tornou ali tão banal, a sorte das meninas recém-nascidas é tão incerta que se prefere deixá-las morrer.

Será que é algo assim que desejamos para nosso país? Que a vida em formação se torne de importância nenhuma, de forma a que possa ser eliminada, em pleno florescer?

Pensemos nisso.

Em nosso país, se desconhece o número de abortamentos praticados. São milhares de brasileiros que nunca chegarão a ver a luz do sol.

Logo mais, poderemos ter leis que dirão quem pode ou não continuar vivo.

Um idoso que somente onera a sua família merecerá continuar a viver?

E um portador de anomalia grave ou deficiência mental?

Quem está desempregado, quem não contribui eficazmente para a sociedade!?

Para onde caminharemos?

Manifestemo-nos. Digamos aos nossos representantes que somos cristãos e prezamos a vida, que nos é dada por Deus, não competindo ao homem destruí-la, por livre deliberação.

Felizmente, para a pequenina chinesa, a voz da jornalista soou forte. Ela transmitiu a história em seu programa de rádio.

As linhas telefônicas foram tomadas por chamadas de ouvintes. Alguns muito zangados pela sua atitude de salvar uma vida. Outros, solidários.

Três meses depois, a menininha foi entregue à sua nova família: uma professora e um advogado. E ganhou um nome: Better, que, em inglês, significa A melhor.

                                                                     *   *   *

Recordemos que um dia, nós mesmos, frágeis, pequeninos, aconchegamo-nos em um útero, rogando a um coração de mulher por vida e por amor.

E se hoje estamos escrevendo, lendo ou ouvindo este texto é porque nos foi permitido nascer.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita.

Doe Sangue

Doe Sangue