terça-feira, 26 de abril de 2022

O primeiro culto cristão no lar.


A noite era de estrelas e luar.

Na Terra, uma vez mais, o Mestre escolhia residência humilde para trazer lição inesquecível.

Dessa vez, não era a estalagem singela onde poucos animais puderam ouvir o canto de gratidão de uma mãe e de um pai.

Nessa noite, era a casa de um pescador, aquele que atendera, prontamente, ao Seu convite: Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens.

A casa de Simão Pedro jamais seria a mesma...

Como se desejasse imprimir novo rumo às conversas, que estavam improdutivas e nada edificantes, Jesus expôs com bondade:

O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum.

A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se não nos habituamos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o eterno Pai que nos parece distante?

Jesus passeou o olhar pela sala modesta, fez pequeno intervalo e continuou:

Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procuram a assistência fraterna, uma claridade nova.

A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela, recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no pensamento?

O Pai, que nos dá o trigo para o celeiro, através do solo, nos envia a luz através do céu.

Se a claridade é a expansão dos raios que a constituem, a fartura começa no grão. Em razão disso, o Evangelho não foi iniciado sobre a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e dos animais.

Naquele instante, Jesus propunha, com muita naturalidade, a prática da reflexão dos textos sagrados dentro do lar.

Lembrando que à época não havia livros; as leituras dos textos da Torá eram realizadas nas sinagogas e ainda, apenas os homens tinham acesso ao conteúdo da chamada lei e os profetas.

Quando Jesus propõe essa prática doméstica, Ele altera esse panorama.

Jesus propunha uma conversa regular, dentro de casa, sobre os textos da lei, o que muitos conhecemos como Evangelho no lar, no qual nos servimos das lições do próprio Cristo para enriquecer as conversações.

Jesus não lhe deu nome. Não o rotulou. Propôs, apenas, que fosse um momento em família, em que todos, na casa, pudessem ter voz, pudessem expor suas ideias e também pudessem ouvir.

Em todos os cultos realizados na casa de Pedro, o Mestre demonstrou o quanto sabia escutar, mesmo sendo Ele o Caminho, a Verdade e a Vida.

Sigamos mais esse exemplo. Guardemos um momento semanal na rotina de nosso lar para a oração e breve leitura de texto do livro da vida.

Depois, permitamos que todos, crianças, jovens e adultos, se manifestem, dizendo de como aqueles ditos lhes falam ao coração.

Perceberemos o quanto de doçura e de entendimento existe nos corações dos que nos compõem o lar.

E, mais do que tudo, verificaremos os benefícios que esse encontro semanal trará ao nosso lar.

A paz do mundo começa com a paz no lar.

Redação do Momento Espírita.  

terça-feira, 19 de abril de 2022

Força criadora.

 


O amor é o poder criador mais vigoroso de que se tem notícia no mundo. Seu vigor é responsável pelas obras grandiosas da Humanidade.

Na raiz das realizações dignificadoras, duas circunstâncias propelem a criatura ao avanço iluminativo: a insatisfação sistemática do vaivém do gozo-cansaço, prazer-arrependimento, satisfação-frustração, que passa a considerar outras expressões de felicidade mais apropriadas com a paz, outras formas de bem-estar-amizade, serviço fraternal, interesse comunitário, propiciando o abandono paulatino dos velhos e arraigados hábitos para as novas experiências da solidariedade, do progresso do grupo social, da beleza.

O segundo instrumento propiciador do avanço é a reencarnação, na qual os impulsos de crescimento espiritual, após o cansaço nos patamares da perturbação, propelem para a vivência dos princípios morais e das transformações pessoais intransferíveis.

Nesse estágio central do amor, robustecem-se os impulsos de elevação e ele se irradia sem exigência, todo doação, semelhante a um perfume no ar, cuja origem permanece desconhecida.

A fase superior é assinalada pela paz íntima, que não necessita de retribuição, nem se debilita sob as chuvas da ingratidão.

Enternecedor, torna-se agente anônimo da felicidade dos outros, porque está enriquecido da Harmonia geradora de emoções sublimes, que dispensam o contato físico, a presença, a relação interpessoal.

A sua irradiação acalma, dulcifica, sustenta, porque se origina em Deus, a Fonte Geradora da Vida.

Redação do Jornal Mundo Maior.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Os sentimentos: amigos ou adversários?


Os sentimentos são conquistas nobres do processo de evolução do ser.  Humano é todo indivíduo que se considera capaz de errar, de magoar-se, mas também de erguer-se, saindo das suas dificuldades sem as marcas da passagem pelo terreno pantanoso e infeliz.

A criatura humana existe para amar, amar-se e ser amada. O amor é a vibração de Deus que perpassa em todas as coisas do universo. Quem não está disposto a sair do labirinto do ego, que se compraz na amargura, no ódio, no ressentimento, na lamentação, dificilmente se ama, será amado ou amará, por preferir ser visto pela piedade e pela compaixão, negando-se, embora inconscientemente, ao amor.

Sendo um dínamo gerador de energia criativa e reparadora, o amor-desejo pode tornar-se, pela potencialidade que possui, instrumento sórdido de escravidão, de transtornos emocionais, de compromissos perturbadores.

O amor é o alicerce mais vigoroso para a construção de uma personalidade sadia, por ser gerador de um comportamento equilibrado, por propiciar a satisfação estética das aspirações e porque estimula ao desenvolvimento das faculdades de engrandecimento espiritual que dormem nos tecidos sutis do Eu profundo.

O amor é o grande bem a conquistar, em cujo empenho todos devem aplicar os mais valiosos recursos e esforços e, quando alcança a plenitude, irradia-se em intercâmbio com as energias divinas que mantém o equilíbrio universal, o sentimento de amor cresce e sutiliza-se de tal forma que o Espírito se identifica plenamente com a vida, fruindo a paz e a integração nela.

A canalização da mente para o bem, o ideal, o amor, é o antídoto para todos os sofrimentos, portanto do pensamento para a ação necessitamos apenas o primeiro passo. 

Redação do Jornal Mundo Maior.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Arrependimento.

 


Arrepender-se, dizem, é abrir-se para o bem.

Trata-se de uma ação reparadora. Quando nos arrependemos, pedimos desculpas e perdão do mal praticado, de forma que permaneçam os resultados felizes.

É preciso coragem para identificar o nosso erro. Nobreza de caráter o tentar repará-lo.

Existem, no entanto, algumas situações em que tomamos certas atitudes que, por mais desejemos, não as temos como reparar.

Como reparar a negação de um abraço, o diálogo?

Como reparar aquele momento em que nosso irmão esperava nossa mão, amparando-o, e deixamos de oferecê-la?

Momentos em que, por sofrimento próprio ou por revolta, decidimos não confortá-lo?

Essas são aquelas circunstâncias difíceis de serem sanadas. Não há como voltar para aquele minuto, reviver aquela circunstância.

Uma adolescente judia, quando foi, de forma agressiva, retirada de sua casa com a família e acomodada em uma carroça, com bancos de madeira, recorda da tristeza de seu pai.

Lembra que ele, saindo da casa, ficou parado, olhando para a porta. Parecia confuso, como um viajante que procura chaves nos bolsos na escuridão da noite.

O soldado o insultou, escancarou a porta com um chute e gritou para que ele aproveitasse a festa para seus olhos.

Ele olhou para o espaço escuro. Parecia atordoado, como se não conseguisse decidir se o soldado estava sendo gentil ou indelicado.

Depois, veio em direção à carroça para se juntar aos demais. A menina ficou dividida entre o desejo de proteger seus pais e a tristeza por eles não a poderem proteger.

Sentada ao lado da irmã mais velha, ela a viu assustada. Magda era quem sempre desafiava a autoridade, adorava provocar os outros.

Agora parecia apavorada porque aqueles homens empunhavam armas e a violência estava presente.

Anos depois, lembrando desse triste dia, diria a menina: Em minha lista de arrependimentos, este se destaca: não segurei a mão de minha irmã.

O que viria em seguida, seriam meses de medo, fome, frio. Ela e a irmã sobreviveram aos campos de concentração.

Sua mãe foi mandada para o forno crematório no primeiro dia, logo na chegada.

Foi-lhe dito que, em breve, ela veria sua mãe. Naquela noite, quando perguntou quando a poderia ver, uma prisioneira lhe apontou a fumaça subindo de uma das chaminés à distância.

Sua mãe está queimando lá dentro. É melhor você começar a falar dela no passado.

Estavam sós, as duas irmãs. Mais de uma vez será Magda quem a salvará. Quando estava tão fraca que não conseguia se mover de um local a outro, nas transferências de campos, ela a carregou.

Quando foram colocadas em filas desordenadas para o corte de cabelo, a retirada das roupas, o furto das suas identidades, Magda não saiu do seu lado.

Então, quando chegou a libertação, quando acabou o sofrimento para se iniciar a luta pelo reinício de uma nova vida, ela amargaria, repetidas vezes, aquele gesto tolo: não ter segurado a mão de sua irmã.

Aquele era um momento de desespero, em que tudo lhes estava sendo retirado. Por que não atendera ao ímpeto do afeto?

Pensemos a respeito e, em circunstância alguma, detenhamos o gesto de carinho.

Redação do Momento Espírita.

Doe Sangue

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