Dias perfeitos são esses em que a meteorologia afirma “vai chover” e chove mesmo: não os outros, quando se anda de capa e guarda-chuva para cá e para lá, até se perder um dos dois ou os dois juntos.
Dias perfeitos são esses em que todos os relógios amanhecem certos: o do pulso, o da cozinha, o da igreja, excetuando-se apenas os das relojoarias, pois a graça desses é marcarem todos horas diferentes.
Dias perfeitos são esses em que os pneus não amanhecem vazios; as ruas acordam com dois ou três buracos consertados, pelo menos; os ônibus não vêm por cima de nós, buzinando e na contramão; e os sinais de cruzamento não estão enguiçados...
Dias perfeitos são esses em que ninguém pisa nos nossos sapatos, nem esbarra com uma cesta em nossas meias, ou, se isso acontecer, pede milhões de desculpas, hábito que se vai perdendo com uma velocidade imensa.
Dias perfeitos, esses em que voltamos para casa e a encontramos intacta, no mesmo lugar.
E intactos estão nossos tristes ossos, e podemos dormir em paz, tranquilos e felizes como se voltássemos apenas de um pequeno passeio pelos anéis de Saturno.
* * *
A crônica de Cecília Meirelles fala desse nosso desejo de que tudo esteja sempre no seu devido lugar.
Somos seres de expectativas. Esperamos da vida, dos outros, das coisas, de tudo. E cada vez que algo não corresponde a um desses nossos aguardamentos, emburramos, à maneira das crianças mimadas.
Frustração, decepção, desilusão. Quanto demonstramos esses sentimentos...
Desejamos ter tudo sob controle, sob nosso controle.
Porém, imaginemos cada ser no planeta querendo o mesmo: será que essa equação fecharia?
Da mesma forma, o que é perfeito para nós pode não ser para o outro. Como resolveríamos esse impasse? Quem teria prioridade num Universo justo?
Não criemos expectativas em demasia. Deixemos a vida nos surpreender. Esperemos de tudo e não esperemos nada.
As pessoas não pensam como nós e o Universo não está à nossa mercê para ficar simplesmente satisfazendo nossos caprichos aqui e ali.
A beleza da vida está, muitas vezes, exatamente nisso que podemos chamar de imperfeições. A poetisa a enxergou nos relógios marcando horas diferentes na relojoaria.
Alguém mais prático poderia perguntar: Mas de que servem esses relógios se não marcam a hora certa?
O poeta responderia: Que tal se perder na hora, no tempo, de vez em quando, sem saber qual relógio está certo, qual relógio está errado? Afinal, que é o tempo?
A beleza da vida está em enxergar perfeição nos dias, mesmo que não tenham sido nada do que esperávamos deles. Está em terminar cada jornada, entre o amanhecer e entardecer, um pouco mais maduros, mais conscientes, mais perfeitos, pois é a nossa própria perfeição que devemos buscar.
Veremos que, conforme vamos nos tornando mais perfeitos, os dias também o serão, independente de como se apresentem. Mudaremos a lente que os vê, simplesmente.
Dias perfeitos: nós os faremos.
Redação do Momento Espírita, com base em trecho da
crônica Dias perfeitos, de Cecília Meirelles
Nenhum comentário:
Postar um comentário